No Dia Nacional da Adoção, lembrado nesta sexta-feira (25), 8,7 mil crianças e adolescentes em todo o país aguardam uma família em meio a um total de 43,6 mil pessoas que constam como pretendentes no Cadastro Nacional de Adoção. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na última década, mais de 9 mil adoções foram realizadas no país, sendo 420 entre janeiro e maio deste ano.
A entidade informou que, por meio do cadastro eletrônico, criado em 2008, varas de infância de todo o país passaram a se comunicar com maior facilidade, o que agilizou as chamadas adoções interestaduais. Até então, os processos de adoção dependiam de busca manual por parte das varas de infância para conseguir uma família.
Para a presidente da organização não governamental Projeto Aconchego, Soraya Pereira, os números são consequência da falta de políticas públicas ao longo de muitos anos e da demora em se olhar para o contexto do abrigamento e do acolhimento. Segundo ela, grande parte dessas 8,7 mil crianças e adolescentes é composta por grupos de irmãos e por menores com algum tio de deficiência.
“Não podemos deixar tudo só nas costas dos pretendentes. Todo mundo fala que eles só querem criança pequena, que só querem menina. Mas esse perfil já mudou. Vivemos hoje um gargalo que vem lá de trás e cuja consequência está vindo agora. Temos até mesmo falta de profissionais trabalhando no processo que antecede o abrigamento. Há vários aspectos a serem analisados”, disse.
Soraya lembrou que, antigamente, muitas pessoas com filhos optavam por colocar as crianças em abrigos, diante da falta de condições em casa. Desde 2010, esse cenário, segundo ela, começou a mudar, já que a legislação passou a instituir prazo de dois anos até que a criança seja oficialmente afastada da família e passe a integrar o cadastro de adoção.
“Não temos profissionais em quantidade suficiente para fazer isso andar rápido. Foi acumulando tudo. Estamos em 2018 e essa meninada que estava entrando com 4 anos lá atrás ainda está no cadastro. Hoje, são pré-adolescentes. Temos falhas lá de trás que agora o gargalo está mostrando”, afirmou a psicóloga.
A partir de hoje, o CNJ disponibiliza, em seu portal, a publicação Três vivas para a adoção – uma espécie de guia com um passo a passo explicativo, informações sobre busca ativa e os diversos tipos de adoção. É possível ler ainda depoimentos de famílias que se formaram por meio do processo, com histórias envolvendo adoção tardia e adoção de crianças com deficiência, entre outras.
A obra tem autoria do Movimento de Ação e Inovação Social, com apoio da Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção, do Projeto Aconchego e da Fundação Ford, além da Associação Brasileira dos Magistrados da Infância e Juventude, do Fórum Nacional de Justiça Protetiva e do próprio CNJ.