Mãe de menino fantasiado de escravo pede desculpas

''Jamais foi minha intenção ofender alguém, estou extremamente arrependida por tudo que aconteceu'', diz um trecho do pedido de desculpas
Estadão Conteúdo
Publicado em 30/10/2018 às 14:46
''Jamais foi minha intenção ofender alguém, estou extremamente arrependida por tudo que aconteceu'', diz um trecho do pedido de desculpas Foto: Reprodução/Instagram


Depois da polêmica causada nas redes sociais uma mãe que mandou o filho para uma festa de Halloween na escola fantasiado de escravo, em Natal, Rio Grande do Norte, pediu desculpas, excluiu seguidores, fechou sua conta no Instagram e apagou posts. "Queria somente pedir desculpas pelo fato! Jamais foi minha intenção ofender alguém, estou extremamente arrependida por tudo que aconteceu e me sentindo MUITO mal com os xingamentos e ameaças horríveis que estão me mandando. Desculpa a todos, do fundo do meu coração! #paz", escreveu a mulher na rede social Instagram nesta terça-feira (30).

Mais cedo, a Promotoria de Justiça de Defesa da Criança e do Adolescente do Ministério Público do Rio Grande do Norte instaurou um procedimento para acompanhar o caso. Em nota, o MP afirmou que o acompanhamento do caso transcorrerá em segredo de Justiça por envolver uma criança, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Colégio emitiu nota

O Colégio CEI, onde a criança estuda, emitiu nota. "Lamentavelmente, a escolha do traje para a participação do Halloween, feita pela família do aluno, tocou numa ferida histórica do nosso País. Amargamos as sequelas do trágico período da escravidão até os dias de hoje. O Colégio CEI não incentiva nem compactua com qualquer tipo de expressão de racismo ou preconceito, tendo os princípios da inclusão e convivência com a diversidade como norte da nossa prática pedagógica". A escola não impediu a participação do aluno na festa.

A mulher foi procurada pela reportagem, mas não respondeu às tentativas de contato telefônico.

O caso ganhou repercussão nacional com a replicação em massa da postagem feita pela mãe. Na postagem, ela afirmou: "Quando seu filho absorve o personagem! Vamos abrasileirar esse negócio! #Escravo". O menino aparece pintado, com maquiagem que imita as escaras provocadas por chicotadas e tem as mãos acorrentadas.

Os comentários que se seguiram à publicação enalteciam a criatividade da mãe. Quando as imagens começaram a circular nas redes sociais, centenas de pessoas comentaram a postagem chamando-a de "racista e preconceituosa". O cantor Marcelo D2 republicou as imagens e entrou na discussão online. "Quando você pensa que já viu de tudo na vida", escreveu o cantor.

Depois que a postagem do cantor ultrapassou os 2 mil retweets no Instagram, a mãe se manifestou pela mesma rede social. "Não leiam livros de história do Brasil. Eles dizem que existiu escravidão de negros no País, mas isso é mentira. Não discuta com essa afirmação, pois você estará sendo racista, A PIOR PESSOA, um lixo. Só não entendi ainda se o problema foi o a fantasia ou o "17" na foto", escreveu.

O professor de História da África da Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Amailton Magno de Azevedo, avaliou como desnecessária a postura da mãe em fantasiar o filho de escravo. Segundo Azevedo, trata-se de uma "abordagem ultrapassada, falida e deslocada e que faz reavivar uma mentalidade escravocrata". "O passado histórico ainda persiste no imaginário brasileiro. Temos que combater este tipo de postura, mirar na pluralidade e ter outra narrativa. O negro tem que ser inserido na sociedade de maneira mais digna."

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