Economia britânica ainda carrega a marca do 'thatcherismo'

Margareth Thatcher deixou sucessores no poder
Da AFP
Publicado em 08/04/2013 às 14:56
Margareth Thatcher deixou sucessores no poder Foto: Foto: JEAN-LOUP GAUTREAU / AFP


Margaret Thatcher, falecida nesta segunda-feira (8), deixou uma marca indelével na economia britânica e as estratégias de todos os seus sucessores há 20 anos, tanto trabalhistas quanto conservadores, ainda são comparadas ao seu esmagador legado. 

O atual primeiro-ministro, o conservador David Cameron, não foge à regra. Sua política econômica, marcada por um drástico plano de rigor, provoca regularmente indagações nos meios de comunicação: terá sobre o país efeitos tão radicais quanto a de Margaret Thatcher?

Seu antecessor trabalhista, Tony Blair, no poder de 1997 a 2007, também foi chamado de herdeiro da "Dama de Ferro", na medida em que endossou as grandes orientações da revolução conservadora, como a desregularização dos serviços financeiros ou a privatização do setor público.

Artífice do Novo Trabalhismo, Blair deslocou seu partido para a centro-direita, aproximando-o da ideologia dos "Tories" de Thatcher. Chegou a ganhar o apelido de "Tory Blair", embora também tenha se distanciado da Dama de Ferro ao dar mais recursos a setores como a saúde e a educação.

"Gostemos ou não, Margaret Thatcher mudou a economia britânica para sempre. E também mudou a maneira de pensar dos britânicos sobre o dinheiro, o capitalismo e a empresa. Cameron e Blair herdaram isso", explicou Tony Travers, professor na London School of Economics.

No momento da morte de Thatcher, a sociedade britânica ainda parece mais "thatcherista" do que quando ela estava no poder, e as críticas se multiplicam atualmente na imprensa popular contra a generosidade dos subsídios sociais.

"Agora somos todos filhos de Thatcher", disse o Daily Telegraph, próximo aos conservadores. Uma opinião compartilhada pelo The Guardian (centro-esquerda), para o qual o "Reino Unido é mais thatcherista que nos anos 1980".

Isto explica, sem dúvida, porque os cortes orçamentários da coalizão no poder, mais severos que durante a era Thatcher, não causaram ao menos até agora a revolta popular que teriam provocado em outros países da Europa.

Proclamando sua admiração pela Dama de Ferro, a quem recebeu em Downing Street pouco depois de sua eleição, em 2010, Cameron afirma encarnar um conservadorismo compassivo. Uma maneira de se distanciar dos aspectos mais controversos do thatcherismo, quando lidera uma coalizão com os centristas do partido liberal-democrata.

Mas, no fundo, diz querer transformar também o país de maneira radical com seu conceito de "Big Society", que busca transferir o máximo de competências do Estado à sociedade civil, chamada a assumir seu próprio destino diretamente graças a um exército de voluntários.

Cameron também prometeu reativar as privatizações e revisou o sistema de financiamento das universidades. No âmbito social, o governo realiza reformas que afetam o código de trabalho de forma sem igual desde a era Thatcher.

Grande figura dos anos 1980-90, o ex-ministro conservador Michael Portillo saudou uma vontade reformadora que "tira o fôlego" e um programa econômico "ao menos tão ambicioso" quanto o de Margaret Thatcher.

Uma opinião contestada pelo universitário Tony Travers: "Os partidários de Cameron gostariam de pensar que age como Thatcher. Mas, na realidade, é um personagem mais jovem e mais moderno, que evolui em uma época diferente".

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