Sacerdote jesuíta holandês é assassinado na cidade síria de Homs

O religioso de 75 anos residia na Síria desde 1966
Da AFP
Publicado em 08/04/2014 às 9:37


O sacerdote jesuíta holandês Frans van der Lugt, um "homem de paz", segundo o Vaticano, foi assassinado nesta segunda-feira (8) em frente a sua casa na cidade velha de Homs, onde havia decidido permanecer, apesar da fome e dos bombardeios das forças do presidente sírio Bashar al-Assad.

O sacerdote, de 75 anos, residia na Síria desde 1966 e foi executado a sangue frio por um desconhecido, indicou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

O secretário da Ordem dos Jesuítas holandesa, Jan Stuyt, confirmou à AFP que o padre Van der Lugt foi assassinado na manhã desta segunda-feira.

"Um homem veio buscá-lo, o tirou da casa e disparou dois tiros na cabeça, na rua, em frente a sua casa", explicou.

Apesar das condições de vida extremamente difíceis e da falta de comida, o jesuíta havia optado por ficar na cidade velha de Homs, sitiada e bombardeada há dois anos pelas tropas de Bashar al-Assad, para prestar sua solidariedade à população síria.

"Assim morreu um homem de paz que, com uma grande valentia, em uma situação extremamente arriscada e difícil, quis continuar sendo fiel ao povo sírio, a quem deu há muito tempo sua vida e sua ajuda espiritual", declarou à AFP o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano.

"Neste momento de grande dor, expressamos nosso grande orgulho e gratidão de ter tido um irmão tão próximo dos que sofriam mais", acrescentou.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, condenou a morte do padre, que qualificou de "ato de violência desumana".

O padre Frans van der Lugt "se manteve heroicamente junto à população síria, em meio ao assédio e a dificuldades crescentes", destacou Ban, que exigiu das partes beligerantes e de seus partidários garantia de proteção para os civis, qualquer que seja sua religião, comunidade ou etnia".

"O governo sírio e os grupos armados têm a obrigação legal e a responsabilidade moral" de fazer isto.Até o momento os motivos do assassinato não foram esclarecidos e Jan Stuyt disse não saber se o sacerdote havia sido ameaçado.

A agência oficial síria Sana informou de sua morte ao acusar um "grupo terrorista armado de ter disparado de madrugada contra o sacerdote no monastério dos padres jesuítas no bairro de Bustane al-Diwane, em Homs".

"Um árabe entre os árabes". O padre Van der Lugt, que viveu quase cinco décadas na Síria, será enterrado neste país "de acordo com sua vontade", ressaltou Stuyt.Em fevereiro, o padre havia declarado à AFP através do Skype que considerava a Síria como sua pátria.

"O povo sírio me deu muito, muita amabilidade, muita inspiração e tudo o que possuo. Agora que sofre devo compartilhar sua dor e suas dificuldades", explicou.

"Sou o único sacerdote e o único estrangeiro que resta. Mas não me sinto um estrangeiro, e sim um árabe entre os árabes", declarou sorridente.

Das dezenas de milhares de cristãos que viviam na cidade velha de Homs, não restavam mais do que 66, afirmou.

"Temos muito pouca comida. As pessoas nas ruas têm o rosto cansado e amarelo (...) Há fome, mas o povo também tem sede de uma vida normal. O ser humano não é apenas estômago, também tem coração, e as pessoas precisam ver seus familiares", explicou.

Poucos dias depois, 1.400 pessoas puderam ser retiradas desta parte da cidade em virtude de um acordo entre o regime e os rebeldes negociado pela ONU entre o regime e os rebeldes, que controlam o setor. Mas o padre optou por ficar.

O ministro holandês das Relações Exteriores, Frans Timmermans, prestou homenagem ao sacerdote, que se converteu em "um sírio entre os sírios". "Deve poder contar com nossa contribuição para colocar fim a esta miséria", lançou.

Outro sacerdote jesuíta, Paolo Dall'Oglio, de 59 anos, símbolo do diálogo entre cristãos e muçulmanos, está desaparecido na Síria há oito meses.

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