A Human Rights Watch (HRW) informou nesta terça-feira (13) existirem “fortes indícios” de que o governo da Síria usou gás cloro em três cidades do país, em meados de abril, violando o tratado assinado sobre o uso de armas químicas.
“Há fortes indícios de que helicópteros do governo sírio lançaram bombas com gás cloro em três cidades no Norte da Síria, em meados de abril”, segundo a organização de defesa de direitos humanos.
A HRW, com sede em Nova Iorque, cita entrevistas com testemunhas e pessoal médico, baseando-se ainda em vídeos dos ataques e fotografias dos restos dos barris explosivos. Médicos que prestaram assistência às vítimas indicaram que pelo menos 11 pessoas foram mortas nos ataques, tendo sido observados “sintomas consistentes com os da exposição ao cloro” em cerca de 500 pessoas”, indicou a organização.
A HRW documentou ataques nas cidades de Kafr Zita, em Hama, de 11 e 18 de abril; em Al Temana, em Idlib, em 13 de abril; e em Telmans, também na província de Idlib, em 21 de abril. As três áreas estão sob controle dos rebeldes. Fontes da oposição denunciaram diversos ataques perpetrados pelo governo com recurso a gás cloro - que irrita as vias respiratórias - tendo a televisão estatal síria noticiado um deles, o de Kafr Zita, mas atribuído ao grupo Al Nusra Front, ligado à Al Qaeda.
Ativistas da oposição indicaram que o cloro estava armazenado em barris jogados de helicópteros, dos quais apenas o governo dispõe. A HRW informou que um vídeo dos restos dos barris encontrados no local dos ataques mostra cilindros com o código Cl2 – fórmula do gás cloro.
A organização reconhece, porém, não ter podido confirmar de forma independente que os cilindros evidentes no vídeo foram embutidos nos barris lançados pelos helicópteros. Para a Human Rights Watch é pouco provável que as imagens tenham sido encenadas ou que o gás cloro tenha sido adicionado aos barris, citando os sintomas relatados pelos médicos e testemunhas.
“O aparente uso de gás cloro como arma – já para não mencionar que visavam civis – é uma clara violação da lei internacional”, explicou o vice-diretor da HRW para o Oriente Médio e o Norte de África, Nadim Houry.
“Essa é mais uma razão para o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) levar a situação da Síria ao Tribunal Penal Internacional”, disse Houry.
A França propôs ontem (12) ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que o Tribunal Penal Internacional (TPI) investigue os crimes de guerra cometidos na Síria pelas forças do regime e também pela oposição. Os diplomatas franceses informaram que vão entregar um projeto de resolução com esta intenção aos outros 14 membros do órgão, que podem começar a discuti-lo amanhã (15) e votá-lo na próxima semana.
Como a Síria não é membro do TPI, é necessária uma decisão do Conselho de Segurança para que o TPI possa investigar os crimes cometidos no território sírio. Esta investigação foi reclamada várias vezes pela alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay.
A Síria assinou a Convenção sobre Armas Químicas no ano passado como parte do acordo para a entrega do seu arsenal, depois de ter sido acusada de usar gás sarin nos subúrbios da capital, Damasco.
Possuir cloro não constitui uma violação ao tratado, mas usar o gás como arma, sim. A Organização para a Proibição de Armas Químicas informou que vai enviar uma equipe para investigar as alegações de que foi utilizado cloro em ataques na Síria.
O conflito na Síria já fez mais de 150 mil mortos e milhões de deslocados e refugiados desde março de 2011.