A ofensiva anunciada por Barack Obama contra o Estado Islâmico (EI) se baseia principalmente em ataques aéreos no Iraque e na Síria, mas não serão suficientes e podem levar os Estados Unidos a se envolver na guerra civil síria, estimam analistas.
A estratégia revelada pelo presidente americano envolve fortalecer o exército iraquiano, os curdos e os rebeldes sírios moderados. Este plano é acompanhado por uma campanha de bombardeios aéreos contra posições do EI na Síria que se somariam aos ataques que os Estados Unidos realizam no Iraque.
Os reforços americanos incluem centenas de militares adicionais e eles "são necessários para ajudar na formação, investigação e equipamento das forças iraquianas e curdas", disse Obama na quarta-feira quando anunciou os passos a serem seguidos em sua luta contra os extremistas do EI.
Os americanos também ajudarão os iraquianos a reforçar sua guarda nacional.
Mas na Síria restam dúvidas a respeito da capacidade dos combatentes locais de tirar proveito duradouro deste apoio militar para retomar o controle dos territórios nas mãos do EI.
Os Estados Unidos gastaram muito dinheiro para formar e equipar o exército e as milícias iraquianas durante anos, mas isso não evitou que em junho passado estas forças fossem derrotadas pelo EI. E na Síria, apesar dos esforços dos países ocidentais e do Oriente Médio para equipar determinados grupos rebeldes, as derrotas também se acumularam.
"Uma estratégia fundada na existência de uma força síria rebelde eficaz está destinada ao fracasso", estima Marc Lynch, do centro de reflexão Center for a New American Security.
Diferentemente do que acontece no Iraque, onde o Exército e os combatentes curdos estão prontos para retomar as porções de território dominadas pelos jihadistas, "na Síria os ataques americanos não oferecem uma via plausível a uma vitória política ou estratégica", explica o analista.
Risco de uma escalada na Síria
As autoridades americanas insistem que sua força militar pode enfraquecer o EI por um período duradouro. Revelam que os aproximadamente 150 ataques aéreos lançados desde 8 de agosto conseguiram deter seu avanço no Iraque e mostrar suas vulnerabilidades diante de forças armadas mais modernas ou organizadas.
"Estes grupos insurgentes geralmente têm problemas importantes quando tentam combater de maneira convencional exércitos avançados. É muito duro para eles", comenta Christopher Chivvis, do centro de reflexão Rand Corporation.
"A potência aérea pode provocar grandes danos" contra o EI, acrescenta este ex-funcionário do Pentágono.
O especialista coloca como exemplo o Mali, onde os bombardeios aéreos franceses - em apoio aos soldados em terra - foram muito eficazes na luta contra os extremistas da Al-Qaeda no ano passado. "Mas isso não quer dizer que a força aérea será suficiente para vencê-los".
Para assegurar sua derrota, os soldados deverão enfrentar combatentes do EI no campo de batalha, segundo Chivvis.
Seth Jones, que trabalhou para as forças especiais americanas, a nova pressão militar terá ao menos o mérito de tornar mais difícil o abastecimento do EI no Iraque.
Mas bombardear a Síria implica um risco estratégico e pode abrir caminho para o presidente sírio Bashar al-Assad.
Muitas vozes podem pedir que Washington reforce sua ofensiva militar na Síria.
"O risco de uma escalada na Síria é real", conclui Seth Jones à AFP. "Será difícil colocar um pé americano sem terminar envolvido".