Homens encapuzados atacaram nesta segunda-feira os manifestantes pró-democracia em Hong Kong, em uma tentativa de acabar com as barricadas criadas pelo movimento no epicentro dos protestos que exigem de Pequim o sufrágio universal pleno no território.
Os confrontos aconteceram em uma ampla avenida ocupada em Admiralty, o bairro dos ministérios, quando homens com máscaras de cirurgião tentaram destruir as barricadas. Os policiais conseguiram prender dois manifestantes e formaram um cordão para impedir os ataques.
Os manifestantes acusaram as 'tríades', termo aplicado à máfia chinesa, que já havia sido apontada como a responsável por incidentes violentos em áreas ocupadas pelos ativistas. Deputados pró-democracia da Câmara Legislativa acusaram as autoridades chinesas de enviar provocadores.
"Esta é uma das táticas que às vezes é utilizada pelos comunistas na China continental. Recorrem a tríades ou grupos pró-governo para tentar atacar, e assim o governo não é obrigado a assumir suas responsabilidades", disse o deputado Albert Ho, do Partido Democrático.
A televisão exibiu imagens de um homem obrigado pela polícia a entregar uma navalha. Durante o incidente, vários taxistas, irritados com os bloqueios impostos pelos manifestantes, insultaram os ativistas pró-democracia.
Mais cedo, centenas de policiais retiraram as barricadas de várias avenidas de Admiralty e do bairro comercial de Mongkok, aproveitando que poucos manifestantes passaram e noite nos dois locais. "Parece que a polícia retirou algumas barricadas para abrir caminho aos supostos mafiosos, de forma que conseguiram chegar até os manifestantes pacíficos", disse à AFP a deputada Claudia Mo, do Partido Cívico.
"Estou irritado porque este 'movimento dos guarda-chuvas' é dos estudantes de Hong Kong. A polícia não deveria ser nossa inimiga, e sim nossa amiga", disse à AFP Kim Kwan, um estudante de 21 anos. Há mais de duas semanas, os manifestantes, em sua maioria estudantes, ocupam vários bairros e avenidas estratégicas da ex-colônia britânica, que enfrenta a mais grave crise política desde que o Reino Unido devolveu o território à China, em 1997.
Os manifestantes exigem o sufrágio universal nas eleições de 2017 que decidirão o próximo chefe de Governo local. Pequim anunciou em agosto que terá poder de aprovar ou vetar os candidatos, o que os ativistas consideram inaceitável. O movimento também exige a renúncia do chefe do Executivo local, que consideram uma marionete de Pequim.
Leung Chun-ying declarou no domingo que seus críticos não têm praticamente nenhuma possibilidade de obter a aprovação de Pequim para suas demandas. Hong Kong é um território com status especial e, ao contrário da China continental, goza de muitas liberdades, como a de expressão e manifestação. Também tem um sistema político multipartidário, quando o restante do país é governado pelo Partido Comunista (único).
O governo central organiza uma forte censura na internet sobre assuntos relacionados ao movimento pró-democracia. Dezenas de pessoas foram detidas por manifestações de apoio ao movimento ou por participação nos protestos.
A AFP recebeu a informação de que duas ativistas de Pequim, Zhang Xiuhua e Li Lirong, foram detidas pela participação em julho de uma passeata pró-democracia em Hong Kong. Segundo uma amiga, Zhou Li foi acusada de ter "estimulado brigas e provocado distúrbios".
As duas concederam uma entrevista a um meio de comunicação estrangeiro ligado ao movimento espiritual Falun Gong, muito reprimido na China. De acordo com a amiga de Li, a detenção está relacionada com a entrevista.