O presidente de Burkina Faso, Blaise Compaoré, anunciou nesta sexta-feira que estava deixando o poder depois de 27 anos, pressionado por protestos populares sem precedentes.
O chefe do Estado-Maior do Exército burquinense, general Nabéré Honoré Traoré, anunciou em um comunicado que assumirá as "responsabilidades de chefe de Estado".
"Com o objetivo de preservar as conquistas democráticas e a paz social em nosso país (...) declaro que deixo o poder para permitir uma transição que gere eleições livres e transparentes em um prazo máximo de 90 dias", declara o agora ex-presidente em um comunicado lido por uma jornalista de um canal de televisão local.
Dezenas de milhares de manifestantes voltaram a sair às ruas nesta sexta-feira na capital, Uagadugu, um dia depois de o Exército ter tomado o poder em Burkina Faso, depois de um dia de violência desencadeada pela tentativa de Compaoré de se perpetuar no poder.
"Ao constatar o vazio de poder, considerando a urgência em proteger a vida da nação (...), eu assumirei a partir deste dia as minhas responsabilidades de chefe de Estado", declarou o general Traoré.
Traoré afirma agir "em conformidade com as disposições constitucionais".
"O compromisso que foi assumido é o de realizar com urgência consultas com todas as forças da nação por um processo com o objetivo de promover um retorno à vida constitucional normal", anunciou, acrescentando "ter sido informado da renúncia" do presidente Compaoré.
O chefe do Estado-Maior do Exército pediu que "todos os cidadãos organizados nas diferentes esferas da vida nacional atendam às solicitações que serão feitas".
"As forças de defesa e de segurança tomarão todas as medidas necessárias para garantir a segurança das pessoas e dos bens em toda a extensão do território nacional", anunciou o general Traoré.
Compaoré, que chegou ao poder em 1987 com um golpe de Estado, disse depois na televisão que entendia a mensagem da população, mas ainda sem falar em renúncia.
De acordo com a diplomacia francesa, Compaoré deixou a capital.
"Ele foi para o sul. Ainda está no país. Ele vai para Pô", cidade próxima à fronteira com Gana, informou o Ministério das Relações Exteriores francês, sem indicar se o objetivo do ex-presidente é ir depois para outro país, como Gana ou a Costa do Marfim.
A França, antiga potência colonial, já fala em "golpe de Estado", que pode significar sanções "que vão atingir a população".
Na manhã desta sexta, dezenas de milhares de manifestantes já tinham se reunido diante do Estado-Maior para pedir a ajuda das Forças Armadas contra Blaise Compaoré, mas rejeitando o general Traoré, considerado muito próximo ao ex-chefe de Estado.
Palavras de ordem como "Honoré Traoré renuncie" se alternavam com "Fora Blaise" e "Kouamé Lougué no poder", referindo-se a um general da reserva, ex-ministro da Defesa e chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, que recebe grande apoio popular.
"Não queremos que o general Traoré fique no poder. Precisamos de alguém de valor. Traoré é o braço direito de Blaise Compaoré", acusou Monou Tapsoaba, um militante do Movimento do Povo pelo Progresso (MPP, oposição).
O general Lougué, que já teve o seu nome gritado pela multidão na quinta-feira, é "um homem íntegro, que não mede suas palavras", um "homem exemplar no plano militar", considerou Tapsoaba.
Kouamé Lougué, que havia se reunido na quinta com oficiais de alta patente das Forças Armadas, teria sido descartado como sucessor, indicaram fontes militares.
O líder da oposição, Zéphirin Diabré, revelou que aguarda um "entendimento" entre as duas facções militares que reivindicam o poder. "Eles (os militares) devem se organizar. Espero que consigam se entender".
A revolta em Burkina Faso começou na semana passada contra uma proposta de ampliação do mandato de Compaoré, que se manteve no poder por 27 anos.
O registro dos distúrbios de quinta-feira, quando o país mergulhou no caos, permanece incerto. Segundo a oposição, os confrontos deixaram cerca de trinta mortos e mais de cem feridos, embora não tenha sido indicado se o registro se refere à capital ou a todo o país.
A AFP confirmou apenas a morte de quatro pessoas e seis gravemente feridas, internadas no hospital Blaise Compaoré, o maior da capital.
Blaise Compaoré esteve em três golpes de Estado. O último, em 1987, permitiu sua chegada ao poder e terminou com a morte de Thomas Sankara, ícone do panafricanismo.
Sua intenção era modificar pela terceira vez o artigo 37 da Constituição, que limita a no máximo dois os mandatos presidenciais de cinco anos. Outras medidas parecidas haviam sido tomadas em 1997 e em 2000.