Um duplo atentado da Al-Qaeda matou neste sábado (8) dezenas de rebeldes xiitas no centro do Iêmen, pouco depois da formação de um governo que visa a acabar com a violência endêmica e uma grave crise política.
Um camicase jogou seu carro-bomba contra um centro médico usado como quartel pelos rebeldes, na cidade de Rada (sul de Sanaa), segundo fontes tribais, que falaram de dezenas de mortos.
A Al-Qaeda afirmou, por sua parte, em um comunicado, que dezenas de huthis (rebeldes xiitas) morreram ou ficaram feridos no atentando.
Em outro ataque, membros da rede extremista abriram fogo contra um colégio ocupado pelos rebeldes, também perto de Rada.
A AFP não pôde confirmar números junto a uma fonte independente.
O Iêmen, que há meses sofre ataques da Al-Qaeda contra suas forças de segurança, mergulhou ainda mais na incerteza em setembro, quando ohuthis, uma minoria do noroeste do país, se apoderaram da capital Sanaa e de outras zonas.
A entrada dos rebeldes em territórios tradicionalmente sunitas provocou a revolta doas tribos, que pegaram em armas, e principalmente da Al-Qaeda, muito ativa no país.
Em função da situação, o Conselho de Segurança da ONU adotou na sexta-feira sanções contra dois chefes da rebelião e contra o ex-presidente Ali Abdullah Saleh.
Isso fez com que neste sábado o presidente iemenita Abd Rabo Mansur Hadi fosse destituído da direção de seu partido, o Congresso Popular Geral (CPG), que o acusa de ter pedido as sanções contra Saleh.
O CPG afirma ter nomeado duas pessoas como vice-presidente e secretário-geral, cargos exercidos até agora por Hadi.
Hadi sucedeu Saleh depois que este último se viu obrigado a renunciar por uma revolta popular, em 2012. Mas Saleh continuou à frente do partido, com 225 cadeiras das 301 no parlamento.
Além de Saleh, o Conselho de Segurança adotou sanções contra o chefe da rebelião xiita, Ansaruallah Abdel Malek Huthi, e contra outro rebelde, Abddulah Yahya al Hakim.
Um novo governo de 36 membros começou a funcionar no Iêmen na sexta-feira para ajudar a tirar o país de sua grave crise política.
A formação do novo gabinete estava prevista no acordo de paz concluído em 21 de setembro, dia da tomada de Sanaa pela rebelião xiita, mas foi adiada devido às tensões entre esses insurgentes e seus adversários políticos.
O diplomata de carreira Abdullah al-Saidi foi nomeado ministro das Relações Exteriores. Na Defesa, assume o general Mahmud al-Subaihi, que até agora era comandante da 4ª região militar. O novo ministro do Interior será o general Jalal al-Ruishen, que era chefe da polícia política.
Os principais grupos políticos firmaram um novo acordo em 1º de novembro para repartir os ministérios.
Por meio de seu representante, a ONU havia declarado que era necessário instalar o governo o mais rápido possível para evitar o aumento das tensões entre xiitas e sunitas e que o país se afundasse ainda mais na crise.
Milhares de rebeldes xiitas e partidários de Saleh se manifestaram na sexta-feira para protestar contra a ONU.
O CPG pediu a seus partidários que saíssem às ruas e alertou que a prisão de seu líder agravaria a crise no país.
O ex-presidente é considerado o principal apoio dos rebeldes xiitas, que se apoderaram de Saná e outras zonas do Iêmen desde setembro.
Os manifestantes, muitos armados e exibindo fotos de Saleh, se reuniram na praça Tahrir da capital gritando slogans contra os Estados Unidos.
Saleh deixou o poder depois de um ano de protestos contra seu regime, um movimento em que participaram os rebeldes xiitas, chamados huthis.