O compromisso firmado pela China com os Estados Unidos, de redução de emissões de gases do efeito estufa, pode ser considerado notável. Mas ainda é uma carta de intenções e está longe do necessário, explica Carlos Nobre, secretário de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. “Os cortes teriam de ser mais rápidos e mais profundos até 2030.”
Qual sua avaliação do acordo de Pequim, em relação aos compromissos já assumidos pela União Europeia?
O compromisso dos Estados Unidos é menor do que o da União Europeia, mas bem maior do que os anteriores. Trata-se, porém, de uma carta de intenções. Não há nada escrito ainda. A meta da União Europeia de reduzir as emissões, em 2030, para 40% do volume registrado em 1990 é mais ambiciosa. Os Estados Unidos prometem corte de até 28% em outra escala, de 2005. O mais notável desse anúncio é o compromisso da China, cujas emissões crescem a uma média de 5% ao ano. Até 2009, a China só se comprometia a melhorar a intensidade de carbono. Isso é ótimo, mas para o planeta não significa nada.
Mas, pelo acordo, a China emitirá o quanto queira até 2030...
Não, a China não poderá mais aumentar suas emissões como hoje. Se continuar a elevar as emissões em 5% nos próximos 15 anos, certamente vai dobrar suas emissões em 2030. Com o acordo, terá de começar a se ajustar já.
Como fará isso?
A China deve ter um plano gradual de redução, com base no compromisso de fazer a energia renovável ocupar 20% do total consumido em 2030. As fontes renováveis vão substituir o crescimento das emissões de petróleo, carvão e gás natural. Nesse cenário, a China deverá emitir entre 30% e 40% menos gases em 2030. Isso é uma boa notícia, principalmente se Pequim engatar uma terceira marcha em 2030 para reduzir muito mais as emissões. Em outras palavras, se tiver um plano mais agressivo de ingresso de fontes renováveis na matriz energética. Na China, a parcela de renováveis de 20% do total, em 2030, significa muito mais do que toda a energia a ser consumida pelo Brasil nessa data.
O acordo contribui com a meta de impedir um aquecimento global maior que 2°C até 2100?
O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) conclui que, para alcançar essa meta, será necessário reduzir emissões globais entre 40% e 70% até 2050. No fim do século, as emissões terão de ser zeradas ou negativas. Ou seja, o dióxido de carbono (CO2) acumulado terá de ser retirado da atmosfera. Para fechar a conta, os cortes tanto americanos como chineses teriam de ser mais rápidos e mais profundos até 2030.