Papa quer união com os ortodoxos na defesa dos cristãos do Oriente

O papa e o líder ecumênico trabalharam muito nos últimos meses para criar uma aproximação entre as igrejas cristãs ocidentais e orientais
Da AFP
Publicado em 30/11/2014 às 14:25
O papa e o líder ecumênico trabalharam muito nos últimos meses para criar uma aproximação entre as igrejas cristãs ocidentais e orientais Foto: Foto: AFP


O papa Francisco e o patriarca ortodoxo Bartolomeu deram neste domingo (30) em Istambul um novo passo para a aproximação entre as duas Igrejas, separadas há quase mil anos, em uma defesa dos cristãos ameaçados pelos jihadistas no Iraque e na Síria.

No terceiro e último dia da primeira visita papal à Turquia, os dois líderes religiosos defenderam de maneira veemente suas comunidades e afirmaram, em uma declaração conjunta, que não podem resignar-se "a um Oriente Médio sem cristãos".

"Muitos de nossos irmãos e irmãs estão sendo perseguidos e se viram forçados, com violência, a deixar suas casas", lamentam no texto divulgado neste domingo. "E, infelizmente, tudo isto acontece pela indiferença de muitos", completa a nota.

A ofensiva iniciada em julho pelos jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria deixou centenas de milhares de deslocados, incluindo dezenas de milhares de cristãos.

"A terrível situação dos cristãos e de todos os que estão sofrendo no Oriente Médio requer não apenas a nossa oração constante, mas também uma resposta adequada por parte da comunidade internacional", insistiram Francisco e Bartolomeu I no documento assinado após uma "divina liturgia" de mais de duas horas.

A cerimônia celebrada na Igreja Patriarcal de São Jorge, em Istambul, representou um grande final para uma viagem que também tinha como objetivo estreitar as relações entre a Igreja Católica Romana e as igrejas ortodoxas.

"A única coisa que a Igreja Católica deseja e que eu busco como bispo de Roma é a comunhão com as igrejas ortodoxas", afirmou Francisco após a liturgia. A presença do papa em Istambul - anteriormente conhecida como Constantinopla, antiga capital do mundo cristão bizantino - teve um grande peso simbólico.

O papa e o líder ecumênico trabalharam muito nos últimos meses para criar uma aproximação entre as igrejas cristãs ocidentais e orientais, divididas desde o cisma de 1054.

"A Igreja Católica não busca impor uma exigência qualquer, e sim a da profissão da fé comum", disse Francisco.

'CORDIAL E SERENO' - Para ilustrar suas palavras, Francisco e Bartolomeu, que se consideram amigos, se abraçaram em Fanar, a sede do patriarcado, diante dos aplausos de alguns fiéis.

A perspectiva de uma reunificação, no entanto, parece complicada, dada a rivalidade existente entre as distintas Igrejas ortodoxas, em particular as da Rússia e de Constantinopla. Na declaração conjunta, o papa e Bartolomeu I destacaram "um ecumenismo do sofrimento" como fator de aproximação.

A comunidade cristã da Turquia é minúscula (apenas 80.000 fiéis entre 75 milhões de muçulmanos), mas também é extremamente heterogênea, pois inclui armênios, gregos ortodoxos, franco levantinos, sírios ortodoxos e caldeus.

Destes, apenas as comunidades franco levantina e caldeia consideram o papa seu líder espiritual.

Antes de deixar Istambul durante a tarde, o papa se reunirá com jovens cristãos que foram obrigados a abandonar o Iraque e a Síria em consequência dos conflitos para buscar refúgio na maior cidade da Turquia.

O pontífice aproveitou o discurso para condenar com veemência o atentado cometido na sexta-feira contra a mesquita de Kano na Nigéria, atribuído ao grupo islamita Boko Haram, que chamou de "pecado extremamente grave contra Deus".

Francisco e Bartolomeu também dedicaram palavras ao conflito na Ucrânia. "Oramos pela paz na Ucrânia, um país com uma antiga tradição cristã, e fazemos um apelo a todas as partes envolvidas para que continuem no caminho do diálogo e do respeito ao direito internacional", afirma a declaração conjunta.

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