Ataque contra escola deixa mais de 140 mortos no Paquistão

Entre as vítimas, 132 eram estudantes da instituição e nove eram funcionários do local
Da AFP
Publicado em 16/12/2014 às 15:43
Entre as vítimas, 132 eram estudantes da instituição e nove eram funcionários do local Foto: Foto: ASIF HASSAN / AFP


Um grupo de talibãs armados invadiu nesta terça-feira (16) uma escola para filhos de militares no Paquistão, cometendo um massacre que deixou 141 mortos, a maioria crianças e adolescentes. Cerca de cinco horas depois do início do ataque, o Exército anunciou o fim dos combates, com a eliminação dos seis agressores.

Muitos alunos foram executados com tiros na cabeça, informou o ministro provincial da Informação, Mushtaq Ghani.

Entre as vítimas, 132 eram estudantes da instituição e nove eram funcionários do local. Além disso, 124 pessoas ficaram feridas, entre elas 121 crianças, informou o porta-voz do exército, Asim Bajwa.

Segundo testemunhas, uma forte explosão sacudiu a escola pública. Depois disso, os terroristas - que usavam uniformes militares -, percorreram sala por sala atirando nos estudantes. 

O ataque, reivindicado imediatamente pelo Movimento dos Talibãs do Paquistão (TTP, nas siglas em inglês), principal grupo extremista islâmico do país, é o pior da história do Paquistão e é muito significativo porque teve como vítimas os filhos de integrantes das forças de ordem.

O recorde anterior de vítimas remontava a dezembro de 2007, quando 139 pessoas morreram em um atentado em Karachi, entre elas a ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, que acabava de voltar ao Paquistão.

A ação desta terça-feira ocorreu quase uma semana depois da entrega do prêmio Nobel da Paz à jovem paquistanesa Malala Yousafzai, por sua defesa do direito das meninas à educação.  "Estou com o coração partido por este ato de terrorismo sem sentido e a sangue frio em Peshawar", afirmou em um comunicado Malala, de 17 anos.

"Eu, junto a milhões de pessoas em todo o mundo, choro por essas crianças, meus irmãos e irmãs, mas nunca nos derrotarão", prometeu.

O primeiro-ministro do Paquistão, Nawaz Sharif, decidiu visitar a escola e denunciou uma tragédia nacional provocada por selvagens.

Mudassar Abbas, assistente no laboratório da escola, disse que alguns estudantes estavam em uma festa quando o ataque começou.  "Eu vi seis ou sete pessoas que foram de sala em sala disparando contra as crianças", afirmou.

Um estudante que sobreviveu à ação disse que os soldados entraram para resgatar os alunos quando os disparos tinham sido interrompidos. 

"Quando estávamos saindo da sala de aula, vimos vários corpos de colegas nos corredores. Estavam sangrando. Alguns foram atingidos com três ou quatro tiros", contou a testemunha. 

ALVOS FRÁGEIS - Esta escola, com 500 estudantes entre dez e 18 anos, está localizada na estrada entre Peshawar e Warsakm e faz parte de uma rede de 146 instituições para filhos de militares. As mulheres dos soldados trabalham como professoras. 

Mohamed Umar Jorasani, porta-voz do TTP, reivindicou o ataque e disse que os militantes usaram franco-atiradores e suicidas. 

"Receberam ordens para atirar nos estudantes mais velhos, não em crianças", disse à AFP, afirmando que o objetivo da operação era vingar seus combatentes mortos na ofensiva militar contra o movimento em seus redutos perto de Peshawar.

O TTP, principal grupo extremista do país, é uma organização ligada à Al-Qaeda, que enfrenta o governo desde 2007.

"Realizamos uma investigação em que determinamos que os filhos de várias autoridades militares estudam nessa escola", disse Jorasani à AFP. 

O Exército realiza há meses uma ampla ofensiva contra o TTP na região tribal do Waziristão do Norte, situada na fronteira com o Afeganistão. 

Em um comunicado, o presidente americano, Barack Obama, condenou o ataque.

"Tomando como alvo estudantes e professores neste ataque hediondo, os terroristas mostraram novamente sua depravação", declarou Obama, destacando o compromisso dos Estados Unidos com o governo paquistanês "para combater o terrorismo e o extremismo" e promover a paz e a estabilidade na região.

Já o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que "é um ato horroroso e de covardia atacar crianças indefesas enquanto aprendem".

O presidente francês, François Hollande, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, também condenaram o ataque, e a Índia, vizinha do Paquistão, chamou a ação de "desumana". 

Para Talat Masood, general aposentado e especialista em segurança, o ataque tem dois objetivos: tático e militar. 

"Atacaram alvos frágeis esperando que isso tenha um forte impacto psicológico na população. Os talibãs esperam que, atacando crianças, vão fazer com que caia o apoio às operações militares contra eles", explicou.

O Paquistão trava uma luta contra grupos radicais em suas regiões semiautônomas desde 2004, quando o Exército entrou nesses locais em busca de combatentes da Al-Qaeda que deixavam o Afeganistão para fugir da pressão americana.

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