O presidente eleito da Tunísia, Beji Caid Essebsi, prometeu "virar a página do autoritarismo" no país, berço da Primavera Árabe, que enfrenta muitos desafios na transição para a democracia.
"Sou favorável a virar a página completamente", disse Essebsi em uma entrevista exibida na televisão na segunda-feira à noite.
Essebsi, 88 anos, é um veterano político que foi ministro durante o regime de Habib Bourguiba e presidente do Parlamento durante o governo de Zine el Abidine Ben Ali, os dois únicos presidentes até agora da Tunísia, ambos claramente de tendência autoritária.
Essebsi, que venceu as eleições celebradas no fim de semana, afirmou que "a hegemonía é uma ilusão".
"Não vai acontecer um retorno àquilo", completou.
Essebsi conquistou a presidência com 55,68% dos votos, ficando à frente do atual presidente, Moncef Marzuki, de acordo com a Comissão Eleitoral.
Ele teve mais de 1,7 milhão de votos no segundo turno do pleito, celebrado este domingo, contra mais de 1,3 milhão para seu adversário (44,32% dos votos), informou o presidente da comissão eleitoral, Chafik Sarsar.
A participação atingiu 60,1% das pessoas habilitadas a votar.
Essebsi também prometeu ser "o presidente de todos os tunisianos".
Essebsi, um ferrenho partidário de um Estado laico, foi nomeado primeiro-ministro provisório em fevereiro de 2011.
Ele conduziu o país com mão de ferro até as primeiras eleições livres de sua história, em outubro deste ano, vencida pelo partido islamita Ennahda.
Sua carreira é longa. Ele foi ministro do Interior, da Defesa e das Relações Exteriores com o primeiro presidente e pai da independência tunisiana, Habib Bourguiba. Depois foi presidente do Parlamento no período 1990-1991 sob presidência de Zine el Abidine Ben Ali, o mesmo líder que afastou Bourguiba do poder.
Por isso foi acusado por seu adversário de ser um simples produto do antigo regime, que foi derrubado em janeiro de 2011, depois de uma histórica revolta popular que fez nascer a chamada Primavera Árabe.
Essebsi será o primeiro presidente eleito democraticamente desde a independência do país em 1956.
Habib Bourguiba, o primeiro presidente, e Zine el Abidine Ben Ali, que em janeiro de 2011 fugiu para a Arábia Saudita, sempre recorreram à fraude ou plebiscito. Marzouki foi eleito em 2011 pela Constituinte com o apoio dos islamitas do Ennahda.
Com estas eleições, os tunisianos esperam selar quatro anos de difícil transição, desde a queda em janeiro de 2011 de Ben Ali.
A campanha presidencial foi muito difícil, já que os candidatos não deixaram de trocar ataques e insultos.
Essebsi se apresentou como o único político capaz de reparar os erros do partido Ennahda, no poder de 2012 no início de 2014, e de seu aliado Marzouki.
Agora, o partido de Essebsi, Nidaa Tunes, deverá formar o próximo governo buscando uma coalizão, já que carece de maioria absoluta no parlamento.