A perplexidade e a incredulidade das primeiras horas que se seguiram ao atentado da última quarta-feira (7), em Paris, ao semanário satírico Charlie Hebdo, no qual 12 pessoas foram mortas, foram substituídas pelo clima de apreensão e medo após eventos ocorridos nas últimas horas e ainda não esclarecidos: uma policial foi morta por um atirador que disparou a esmo na parte sul de capital francesa e locais de manifestação de fé muçulmana, em diferentes regiões do país, foram atacados.
Uma operação de guerra está em curso para capturar os suspeitos de ter atacado a redação do Charlie Hebdo, no centro de Paris, e ontem (7) mesmo o governo francês elevou ao máximo o nível de alerta do plano interministerial contra o terrorismo: o VigiPirata.
Cerca de 3 mil policiais buscam deter dois suspeitos, identificados pelo Ministério do Interior como sendo os irmãos Chérif Kouachi e Saïd Kouachi, de 32 e 34 anos. O terceiro suspeito, Mourad Hamyd, de 18 anos, se entregou à polícia.
O empresário norte-americano naturalizado brasileiro Glen Homer mora há quatro anos em Paris com a mulher e dois filhos. Sua impressão, hoje, é que Paris amanheceu em câmera lenta, com as pessoas atônitas. A casa de Homer fica perto das Galerias Lafayette, conhecido centro de compras da capital. “O policiamento, que é sempre presente, foi reforçado”, disse ele à Agência Brasil nesta manhã.
“Estamos todos muito apreensivos por causa das incertezas, por não sabermos exatamente o que está acontecendo. Mas o povo francês é combativo e não se deixa abater. As manifestações espontâneas desta quarta-feira, as vigílias, são uma expressão dessa combatividade”, afirmou Homer. Segundo ele, escolas, museus, o comércio e as repartições públicas funcionam normalmente. No entanto, com o alerta máximo de segurança, excursões e passeios escolares foram suspensos.
O empresário considera pouco provável que a população reaja aos ataques responsabilizando estrangeiros ou grupos religiosos. “Principalmente em Paris, onde é grande o número de estrangeiros, a maioria das pessoas entende que a violência é a manifestação de uma minoria radical. E como as principais lideranças muçulmanas se anteciparam e condenaram o ataque ao Charlie Hebdo, acho que não deverá haver caça às bruxas.”
A jornalista francesa Karima Saidi tem opinião semelhante. De acordo com Karima, como os terroristas ainda não foram presos e suas motivações reais não são conhecidas, o principal debate entre os franceses, no momento, diz respeito aos limites da liberdade de expressão. Francesa de ascendência árabe, Karima, no entanto, não esconde o medo de que a situação se radicalize. “Há muita solidariedade, mas, ao mesmo tempo, muito medo. Medo de que as coisas piorem e a violência aumente devido à ação de um grupo minoritário.”
Segundo o Ministério do Interior, o VigiPirata é um sistema permanente de vigilância, prevenção e proteção, que se aplica na França e no exterior, com efeitos sobre os transportes, a saúde, a alimentação e as redes de energia e de segurança dos sistemas de informação, entre outros, coordenado pelo primeiro-ministro Manuel Valls.
O sistema é acionado e alimentado a partir de informações colhidas pelos serviços de inteligência e, em caso de ataque terrorista, como está sendo classificado o de ontem, pode ser prorrogado por planos específicos de intervenção. De acordo com o ministério, além de tentar proteger os cidadãos e o território francês de ameaças terroristas, o VigiPirata permite às autoridades de defesa agir rápida e coordenadamente em caso de ataques.