O escritor francês Michel Houellebecq, autor do polêmico "Soumission" (submissão), lançado no mesmo dia do atentado à redação do jornal satírico "Charlie Hebdo", em Paris, suspendeu a divulgação do livro nesta quarta-feira (8) e deixou a cidade, segundo a imprensa francesa.
Também na quarta, o "Charlie" havia chegado às bancas francesas com uma caricatura de Houellebecq, acusado de incitar a islamofobia, na capa. O cartum, assinado pelo artista Luz --que sobreviveu porque estava atrasado para a reunião que os terroristas interromperam--, o romancista aparece vestido de mago, fazendo previsões: "Em 2015, perdi meus dentes. Em 2022, cumpri o Ramadã".
A trama do livro de Houellebecq se passa em 2022, quando a fictícia Fraternidade Muçulmana chega ao poder na França, com o apoio de partidos tradicionais, que se uniram para evitar a ascensão do Frente Nacional, de extrema-direita. Depois disso, a poligamia é instaurada e as mulheres passam a ser obrigadas a largar seus empregos e a usar véus.
A obra provocou debates acalorados sobre a possibilidade de seu enredo alimentar o discurso de ativistas anti-imigração.
Segundo o agente de Houellebecq, François Samuelson, o escritor decidiu suspender a divulgação do livro por ter ficado "profundamente abalado pela morte de seu amigo Bernard Maris". Maris, uma das 12 vítimas fatais do atentado, havia elogiado o livro nesta edição do "Charlie".
A obra será lançada no Brasil ainda neste semestre pela Alfaguara, segundo a editora Objetiva, responsável pelo selo.
PRESENTE DE NATAL
Em entrevistas à TV francesa nos dias anteriores ao ataque, Houellebecq defendeu-se das acusações de que o livro estimula a islamofobia. "Não vejo isso no romance", disse.
Também ouviu, de um dirigente de uma associação antirracismo, que "Soumission" seria o melhor presente de Natal que Marine Le Pen, líder do Frente Nacional, poderia ter desejado, já que levaria o eleitor francês a preferir a extrema-direita que o risco islâmico.
Em resposta, Houellebecq disse que não existe "nenhum romance que tenha alterado o rumo da história" e lembrou que "Marine Le Pen não precisa disso. As coisas vão muito bem para ela no momento".