Falta d'água é entrave para desenvolvimento social no Haiti

Os rios da capital haitiana estão, em sua maioria, sujos e assoreados. A cidade não tem coleta de lixo e é comum encontrar pilhas de entulho sendo incineradas
Da ABr
Publicado em 12/01/2015 às 11:17
Os rios da capital haitiana estão, em sua maioria, sujos e assoreados. A cidade não tem coleta de lixo e é comum encontrar pilhas de entulho sendo incineradas Foto: Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil


Considerado um dos principais problemas no Haiti, o acesso à água figura entre os desafios para o desenvolvimento econômico e social. Segundo dados das Nações Unidas, 768 milhões de pessoas não têm acesso à água tratada em todo o mundo. No país caribenho, o item é escasso e caro. O galão de 5 litros é vendido a US$ 0,25. A maior parte da população vive com menos de US$ 1 por dia. Com o objetivo de amenizar a situação, a companhia de água haitiana e a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah) atuam na perfuração de poços artesianos no país. Para facilitar o acesso, a construção é feita nos moldes uma calha de concreto por onde escorre a água.

Em um poço, em Porto Príncipe, os haitianos lutavam por um espaço para encher os baldes. Havia quem aproveitava para tomar banho ou lavar roupas. Gilana Paul vem três vezes por semana buscar água. Como mora longe, conta que teve que caminhar muito para chegar. “Sinto dores em todo o corpo. Carregar esses baldes na cabeça é pesado e me faz sentir fraqueza.”

Perto de Gilana, a desempregada Jose Joseph, lavava roupas com a ajuda da filha. Ela conta que mora com o marido e sete filhos e que tem que vir, quase que diariamente, buscar água no poço. “É muito difícil vir até aqui, carregar baldes pesados e ter que lavar roupas nesse sol quente.”

Jose já teve água encanada em casa. Antes do terremoto vivia em uma casa de tijolos, mas perdeu tudo e hoje mora com a família em um alojamento para desabrigados. “Minha vida mudou completamente. Não precisava carregar água e tinha emprego. Com o terremoto muita gente que investia aqui deixou o país. E agora estamos assim, vivendo na miséria”, desabafa, ao acrescentar que quase sempre falta comida.

Os rios da capital haitiana estão, em sua maioria, sujos e assoreados. A cidade não tem coleta de lixo e é comum encontrar pilhas de entulho sendo incineradas. Como também não há saneamento básico, o esgoto que corre pelas ruas, a céu aberto, desemboca nos rios.

Mas o problema da falta de água não é exclusivo de Porto Príncipe e de seus mais de 2 milhões de habitantes. A pouco mais de 190 quilômetros ao sul da capital está a cidade de Les Cayes. Por aqui, também é comum encontrar pessoas carregando baldes d'água na cabeça.

No município de 70 mil habitantes há uma base da Minustah. Além de estabelecer a segurança local, o objetivo dos militares – a maioria brasileira – é a de construir poços artesianos. Em dez anos de Missão, já foram construídos 50 em todo o país. Mas o comandante da Engenharia da Força de Paz, tenente-coronel Luiz Cláudio Brion, afirma que a tarefa não é fácil. “A maior dificuldade é o solo, o terreno aqui é muito pedregoso, então ocorre uma demora maior em relação aos outros terrenos, [como] no Brasil”, disse. “Aqui é predominantemente rocha, então a ruptura da rocha demora mais e por isso o trabalho é mais demorado.”

Quem mora nas proximidades de onde será perfurado o próximo poço no município espera, ansiosamente, que fique pronto logo. O agricultor Louis Jano conta o quanto é difícil conseguir água e que é quase impossível obtê-la de graça. “Preciso pagar um Tap Tap [tipo de transporte coletivo haitiano] para conseguir pegar água longe. Além de pagar o transporte ainda tenho que pagar para o dono do poço.”

O ferreiro Augustin Michel diz que sofre com a falta de água há anos. Ele já sabe o que fará assim que o poço começar a funcionar. “Vou fazer uma grande festa. E vou convidar todos vocês”, comemora.

Nas proximidades do poço, outra família também sonha. Jean Wenel vive com três irmãos e a mãe em uma casa de apenas um cômodo. Ele conta que tem de buscar água a mais de três quilômetros para dar para os animais, molhar as plantas e lavar a roupa. “É difícil. Tenho que colocar os baldes com água na bicicleta e voltar equilibrando.”

No pequeno cômodo, os irmãos dormem apertados. Com 70 anos, a mãe de Wenel, Pricia Laguere, lamenta. “Tem dois anos que a gente tenta resolver de vez esse problema de água, mas não consigue. Sou viúva e tenho que resolver tudo sozinha. Pra gente ter água aqui eu tenho que comprar água de quem tem poço em casa. E é caro”. Além de não ter água, ela está preocupada com outro problema: as panelas estão vazias e não há o que comer.

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