Em visita ao Sri Lanka, papa pede respeito aos direitos humanos

Dirigentes do país se recusaram a cooperar com o inquérito da Organização das Nações Unidas sobre as denúncias de crimes de guerra cometidos contra civis no fim do conflito
Da AFP
Publicado em 13/01/2015 às 7:12
Dirigentes do país se recusaram a cooperar com o inquérito da Organização das Nações Unidas sobre as denúncias de crimes de guerra cometidos contra civis no fim do conflito Foto: Foto: AFP


Atualizada às 9h56

O Papa Francisco pediu nesta terça-feira (13) o respeito aos direitos humanos e a busca pela verdade no Sri Lanka, no início de uma visita a este país, onde as feridas de uma longa guerra civil ainda não cicatrizaram.

Francisco, que posteriormente viajará às Filipinas, pregará pela reconciliação e a unidade durante esta viagem de dois dias, que ocorre logo depois da surpreendente eleição de um novo presidente.

O Papa foi recebido com fervor por uma multidão de várias centenas de milhares de pessoas, que se aglomeraram na rota de 30 km que separa o aeroporto do centro de Colombo. O Papa realizou este trajeto no papamóvel sob um sol intenso.

Após sua chegada, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que o encontro com os bispos foi cancelado devido a um atraso na agenda, enquanto uma fonte de segurança do Sri Lanka que pediu para não ser identificada disse à AFP que o pontífice parecia exausto após o trajeto.

Neste país ainda dividido entre cingaleses e a minoria tamil, a Igreja tem um papel particular, já que há católicos nas duas comunidades étnicas.

O Papa defendeu a reconciliação em sua chegada ao aeroporto de Colombo, em um país marcado por 37 anos de conflito no qual se enfrentaram o exército e a guerrilha tamil, derrotada em 2009.

"A grande obra de reconciliação deve incluir a melhoria das infraestruturas e cobrir as necessidades materiais, mas, também, e ainda mais importante, promover a dignidade humana, o respeito dos direitos humanos", declarou.

Os direitos humanos constituem um tema extremamente sensível no Sri Lanka, cujos líderes rejeitaram colaborar com a ONU na investigação sobre as acusações de crimes de guerra cometidos contra civis.

"O processo de cura exige incluir a busca pela verdade", ressaltou.

O Papa foi recebido no aeroporto de Colombo pelo novo presidente, Maithripala Sirisena, que acaba de assumir suas funções e que prometeu uma investigação independente sobre as acusações de crimes de guerra que teriam sido perpetrados sob a presidência de seu antecessor, Mahinda Rajapakse.

Mostrando bom aspecto e sorridente, disse aos jornalistas franceses que o acompanham que "havia rezado pela França e voltará a fazê-lo" após os atentados que deixaram 17 mortos na semana passada.

Ásia privilegiada

No Sri Lanka, país que conta com 70% de budistas, 12% de hindus, 10% de muçulmanos e 7% de cristãos, o diálogo interreligioso deverá tomar nota da mensagem do Papa.

Durante o dia, Francisco se reunirá com líderes budistas, hindus e muçulmanos do país. A violência religiosa se multiplicou nos últimos anos na ilha, onde grupos budistas radicais atacaram igrejas e mesquitas para denunciar, segundo eles, a influência destas minorias religiosas.

Na quarta-feira, o Papa realizará uma missa às margens do mar em Colombo que deve contar com a presença de um milhão de pessoas.

Nesta ocasião, canonizará o primeiro santo do Sri Lanka, Joseph Vaz, um missionário proveniente da Índia no fim do século XVII, que, com a ajuda do rei budista, acabou com as perseguições contra católicos.

Em um dos momentos mais emblemáticos de sua visita, o Papa se dirigirá ao santuário mariano de Madhu, em zona tamil, uma região onde a guerra foi muito intensa.

Durante sua sétima viagem fora da Itália desde sua eleição, em 2013, Jorge Bergoglio se reencontrará com as multidões asiáticas, que já lhe deram uma acolhida triunfal em agosto na Coreia do Sul.

Na quinta-feira viajará às Filipinas, com 85% de católicos, onde foram decretados cinco feriados por sua visita em Manila e são esperadas imensas multidões durante sua viagem.

Além de dois encontros com famílias e jovens, os momentos fortes serão a missa no Rizal Park de Manila, onde João Paulo II convocou milhares de fiéis em 1995, e um deslocamento de quase um dia à região de Tacloban.

Nesta zona, atingida em novembro de 2013 pelo tufão Haiyan, celebrará uma missa perto do aeroporto e almoçará com trinta sobreviventes da tragédia.

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