As negociações de paz sobre o conflito no leste separatista da Ucrânia fracassaram e chegaram ao fim sem nenhum acordo, enquanto em campo os combates prosseguem.
"As consultas em Minsk são um fracasso", declarou à agência Interfax-Ucrânia o ex-presidente Leonid Kuchma, enviado de Kiev à capital bielo-russa, onde foram celebrados anteriores acordos de paz entre as duas partes. Segundo ele, os líderes das repúblicas separatistas que tinham assinado os acordos anteriores não foram a Minsk, enquanto seus emissários "se recusaram a discutir medidas para um cessar-fogo imediato e a retirada das armas pesadas".
Durante quatro horas de negociações, sob os auspícios da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), os separatistas não pararam de emitir "ultimatos", disse Kuchma, sem dar mais detalhes.
"A parte ucraniana não aceita nenhum ultimato", sentenciou.
O negociador da autoproclamada República Popular de Donetsk, Denis Puchilin, acusou Kiev de provocar o fracasso das negociações, das quais também participou uma delegação russa, e afirmou que os líderes rebeldes só aceitariam um acordo se Kiev primeiro desse a ordem de cessar-fogo às suas tropas.
Na sexta-feira, os separatistas pró-russos já tinham ameaçado estender sua ofensiva no leste da Ucrânia "até a libertação total de Donetsk e Lugansk" em caso de fracasso nas negociações em Minsk.
Enquanto eram celebradas as negociações em Misnk, o presidente russo, Vladimir Putin, o colega francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel, celebraram uma teleconferência, durante a qual pediram que "a questão do cessar-fogo e da retirada das armas pesadas" ocupasse uma parte central das negociações, segundo um comunicado do Kremlin.
Um nó estratégico sob pressão
Na capital ucraniana, o ministro da Defesa, Stepan Poltorak, anunciou neste sábado que 15 militares morreram e 30 ficaram feridos "em toda a linha de frente" nas últimas 24 horas.
Ele disse, ainda, que os "grupos rebeldes controlam parte" da cidade estratégica de Debaltseve, que liga Donetsk e Lugansk e foi palco de duros combates nos últimos dias.
Seu ministério relativizou esta informação em um comunicado, afirmando que "Debaltseve estava sob controle dos ucranianos", mas que os rebeldes "bombardearam os arredores da cidade".
Uma autoridade militar separatista, Eduard Basurin, disse, por sua vez, que os rebeldes tinham "cercado" as tropas ucranianas - uns 8.000 soldados - presentes na cidade.
O exército ucraniano também indicou neste sábado que prosseguem os combates nos arredores de Vugleguirsk, cuja tomada representaria um avanço decisivo para os separatistas, pois permitiria cercar quase completamente Debaltseve.
O chefe da polícia regional, Viacheslav Abroskin, assegurou que Debaltseve e Vugleguirsk não têm "eletricidade, água, calefação, nem comunicações".
Segundo ele, 12 civis morreram em 24 horas em Debaltseve, onde os "voluntários evacuavam famílias inteiras".
Esforços diplomáticos
Na frente diplomática, a Ucrânia receberá, em 5 de fevereiro, o secretário de Estado americano, John Kerry, que dará a Kiev todo o seu "apoio" no conflito, antes de viajar a Munique para a conferência sobre segurança, onde deve se encontrar com o colega russo, Sergei Lavrov.
Sua última viagem à Ucrânia ocorreu em 4 de março de 2014, pouco antes da queda do regime pró-russo de Victor Yanukovich e antes da anexação da Crimeia pela Rússia.
O embaixador dos Estados Unidos na Ucrânia, Geoffrey Pyatt, afirmou que os Estados Unidos não tinha "esgotado todos os recursos para fazer a Rússia pagar o preço" de seu envolvimento no conflito armado, em entrevista publicada neste sábado no semanário ucraniano Dzerkalo Tyjnia.
A União Europeia, por sua vez, aumentou a pressão sobre a Rússia esta semana, ao estender em seis meses as sanções adotadas em março contra uma série de personalidades pró-russas e russas, que ficarão impedidas de viajar a países do bloco e terão suas contas congeladas.
A Rússia, acusada pelo Ocidente de armar a rebelião pró-russa e de ter enviado tropas ao leste da Ucrânia, continua negando seu envolvimento em um conflito que deixou 5.000 mortos em nove meses, e se apresenta como uma intermediária nas negociações.