A promotoria da Suécia anunciou nesta sexta-feira uma proposta para interrogar o fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, na embaixada do Equador em Londres, onde ele está refugiado, em uma investigação por estupro, uma oferta que o australiano aceitou, segundo o advogado.
"A promotora Marianne Ny enviou um requerimento aos advogados de Julian Assange para saber se ele aceitaria depor em Londres e fornecer uma amostra de DNA", afirma um comunicado da promotoria.
O anúncio representa uma mudança de atitude da justiça sueca, que até o momento era contrária às demandas de Assange de prestar depoimento em Londres e exigia um interrogatório na Suécia. O advogado de Assange, Pers Samuelsson, disse à AFP que o cliente aceita ser interrogado por magistrados suecos na embaixada do Equador em Londres.
"Cooperamos com a investigação. Ele aceitará", disse o advogado, antes de destacar que o cliente está "feliz" com o passo adiante. "É algo que pedimos há quatro anos. Ao mesmo tempo, ele está exasperado porque a promotoria levou tanto tempo para dar este passo", completou o advogado.
Desde junho de 2012, Assange está refugiado na embaixada do Equador da capital britânica para evitar a ordem de prisão europeia que a Grã-Bretanha deseja cumprir caso deixe a representação diplomática.
A polícia inglesa vigia o prédio 24 horas por dia. A justiça sueca investiga duas acusações de estupro apresentadas por duas suecas contra Assange, de 43 anos, que nega categoricamente. Assange teme que a Suécia o extradite aos Estados Unidos por seu papel na divulgação de 250.000 telegramas diplomáticos americanos e 500.000 notas militares secretas pelo WikiLeaks.
Prescrição em agosto
A promotoria afirmou que mudou de posição porque vários fatos atribuídos a Assange prescreverão em agosto de 2015, em menos de seis meses.
"Minha postura é que as condições para tomar o depoimento na embaixada de Londres são tais que a qualidade da audiência seria incompleta. Por isto, seria necessário que estivesse presente na Suécia no caso de um processo. Esta posição continua sendo a mesma", disse Ny.
"Mas agora começa a faltar tempo e, por consequência, tenho que aceitar uma perda de qualidade na investigação", completou. Agora, a Grã-Bretanha terá que aceitar uma investigação em seu território por magistrados estrangeiros e o Equador terá que abrir as portas da embaixada.
Quito concedeu asilo a Assange em agosto de 2012, mas não conseguiu aplicar a medida, já que o australiano não recebeu salvo-conduto para deixar a embaixada e seguir até o aeroporto.
Assange foi acusado por duas mulheres de estupro. As duas o hospedaram em suas casas por ocasião de duas conferências na Suécia. O australiano afirma que as relações com as duas mulheres foram consensuais.
Esta é a primeira vez que a justiça sueca manifesta interesse pelo DNA de Assange, apesar de não ter informado sobre o uso do material. "Eles já têm o DNA dele", disse o advogado de defesa.
Ny admitiu não ter certeza se a investigação poderá progredir com uma audiência. "Há uma incerteza sobre onde poderia nos levar". Elizabeth Fritz, a advogada de uma das demandantes, comemorou a decisão. "Queremos que a investigação avance e para isto era necessário mudar de opinião sobre o local da audiência", afirmou em um comunicado.
Mil dias na embaixada
Julian Assange completará 1.000 dias na embaixada equatoriana na próxima segunda-feira, um período de confinamento que ele compara a viver em uma estação espacial. Assange pediu refúgio no modesto apartamento em 19 de junho de 2012 para evitar a extradição para a Suécia.
A embaixada fica no elegante distrito de Knightsbridge, mas não é muito grande e o australiano vive em um pequeno quarto dividido em um escritório e uma sala de estar, com acesso a uma cozinha modesta.
Com a ameaça de prisão da polícia britânica caso deixe o edifício, ele faz exercícios em uma esteira de corrida e utiliza uma lâmpada de luz solar artificial para compensar a falta da luz natural. Ele aparece poucas vezes na varanda para falar com simpatizantes e com a imprensa.
Agora, com a mudança de postura da promotoria sueca, o caso pode avançar. Assange se recusou a viajar para a Suécia por considerar que as acusações têm motivações políticas e são uma armadilha para uma possível extradição aos Estados Unidos.
O presidente do Equador, Rafael Correa, afirmou que Assange pode ficar na embaixada o tempo que considerar necessário.