O governo argentino enfrentará na próxima terça-feira uma greve nos transportes que ameaça parar o país na etapa final do governo de Cristina Kirchner, com eleições gerais previstas para o dia 25 de outubro.
A greve foi convocada para pedir a redução ou a eliminação de um imposto aplicado sobre os salários e servirá para medir forças antes do início das negociações salariais paritárias com empresas.
A medida de força, quarta desse tipo desde 2012, é também uma demonstração de poder ao próximo governo que assumirá em dezembro.
Os sindicatos são contra o imposto progressivo sobre os salários, que tem alcançado um número cada vez maior de trabalhadores.
O ministro da Economia, Axel Kicillof, antecipou no final de semana que o imposto não será modificado porque "afeta uma minoria que ganha mais", cerca de 850.000 trabalhadores dentro de um total de 11 milhões de assalariados, segundo estimativas oficiais.
O imposto se aplica sobre os salários a partir de 15.000 pesos (aproximadamente 1.700 dólares) nas escalas progressivas que chegam a 35%.
Uma greve política
O chefe de Gabinete, Aníbal Fernández, criticou nesta segunda-feira os grevistas em uma coletiva de imprensa. "Que país lindo seria se não houvesse nenhum imposto! Mas isso é impensado. Este imposto é cobrado no mundo todo", disse.
No fim do ano passado, o governo conseguiu que os sindicatos suspendessem uma greve parecida, ao anunciar que o rendimento médio de dezembro seria isento de imposto de renda.
Partidos de esquerda anunciaram nesta segunda-feira que tentarão formar piquetes em acessos à capital federal, mas sem contar com o apoio dos sindicatos convocadores, que não farão comícios e passeatas.
O governo se reuniu nesta segunda-feira com empresários do transporte para obter a garantia de um serviço mínimo, sob a ameaça de sanções.
"Aqueles que cometerem excessos serão presos", alertou o chefe de Gabinete.
Outra greve em breve?
Os sindicatos responderam com dureza contra o que entenderam como uma provocação e anunciaram que, se suas demandas não forem atendidas, será feita uma nova greve, desta vez por 36 horas.
"Precisamos de um espaço para o diálogo. E se continuarem com as provocações e sem dar respostas às reclamações, as medidas de força vão aumentar", afirmou o líder do sindicato de caminhoneiros e membro de uma central trabalhista opositora, Hugo Moyano, um ex-aliado de Kirchner.
Pablo Micheli, da CTA, outra central sindical da oposição, disse que "se não houver resposta, haverá uma greve de 36 horas com mobilização até a Praça de Maio".
Em reação, a Corrente Político Sindical Federal, que agrupa dezenas de sindicatos da central de trabalhadores CGT, que apoia o governo, informou nesta segunda-feira que não vai aderir à greve, embora tenha admitido "a legitimidade da reclamação dos trabalhadores".
A Corrente pediu que os grevistas enfrentem seus "verdadeiros inimigos, as corporações econômicas que lutam por uma volta a um passado que só gerou desemprego e pobreza".
A greve ameaça com a paralisação do transporte público de ônibus, trens, metrôs, aviação comercial, transporte fluvial e de cargas. Também aderiram os setores médico, bancário e de alimentos, entre outros.