Tropas rivais se enfrentam após tentativa de golpe no Burundi

Receio é de que o golpe de estado possa desencadear um conflito civil
Da Folhapress
Publicado em 14/05/2015 às 13:30
Receio é de que o golpe de estado possa desencadear um conflito civil Foto: Foto: SIMON MAINA / AFP


As ruas de Bujumbura, capital do Burundi, se transformaram em palco de intensos confrontos entre tropas rivais nesta quinta-feira (15), aumentando os receios de que o golpe de Estado anunciado na quarta (14) desencadeie um conflito civil violento em um dos países mais pobres do mundo.

Espessas nuvens de fumaça preta podiam ser vistas no céu da cidade nesta quinta, enquanto tiroteios e explosões eram ouvidos esporadicamente nas ruas. Em pontos estratégicos de Bujumbura, havia combates entre tropas leais e contrárias ao presidente Pierre Nkurunziza, que estava fora do país no momento da tentativa de golpe contra ele. Desde então, o seu paradeiro é desconhecido.

Na sede da emissora estatal de rádio RTBN, forças leais a Nkurunziza resistiam a ataques a tiros e morteiros. "Nós estamos sendo atacados. É muito intenso. O transmissor foi cortado e nós não conseguimos transmitir", disse um funcionário da emissora disse à agência de notícias AFP.

A crise no Burundi se agravou nesta quarta-feira após a tentativa de golpe do general Godefroid Niyombare, demitido do governo há três meses. O golpe se seguiu a três semanas de grandes protestos -que deixaram mais de 20 mortos e inúmeros feridos- contra a intenção de Nkurunziza em concorrer nas eleições previstas para junho a um terceiro mandato presidencial - o que é proibido pela Constituição do país.

"As massas rejeitam de forma vigorosa e enérgica um terceiro mandato do presidente Nkurunziza. O presidente foi dispensado de suas funções", declarou o general Niyombare por rádio na quarta.

Milhares de pessoas foram às ruas para comemorar a tentativa de golpe. No entanto, as forças de segurança parecem ter se dividido em duas facções, uma contrária e outra leal ao presidente. Na quinta, Niyombare havia reconhecido o fracasso do golpe, reconhecendo que as tropas leais mantinham controle de pontos estratégicos.

Em resposta à tentativa de golpe, líderes do leste africano reunidos na Tanzânia disseram que a região "não aceitará se a violência não cessar no Burundi". O presidente da União Africana, Nkosazana Dlamini Zuma, afirmou condenar "fortemente a tentativa de golpe em Bujumbura" e pediu pelo "retorno da ordem constitucional".

O conselho de segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) deve ter uma reunião de emergência nesta quinta para discutir a situação no Burundi.

A violência das últimas semanas, que fez com que mais de 50 mil pessoas fugissem para Ruanda e outros países vizinhos, aumenta os temores de que o Burundi mergulhe em uma guerra civil.

O país enfrenta a sua maior crise desde o fim, em 2006, de uma longa guerra civil entre os grupos étnicos Hutu e Tutsi, a qual deixou centenas de milhares de mortos.

O Burundi, uma antiga colônia da Alemanha e da Bélgica, é um dos países mais pobres do mundo.

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