Cenas de selvageria deixam 100 mortos em barco de migrantes na Indonésia

Violência teve início quando a água e a comida começaram a acabar
Da AFP
Publicado em 19/05/2015 às 9:59
Violência teve início quando a água e a comida começaram a acabar Foto: Foto: AFP


Pelo menos 100 pessoas morreram em confrontos extremamente violentos entre rohingyas de Mianmar e migrantes de Bangladesh, armados com machados, facas e barras de metal, em um barco à deriva na costa da Indonésia, relataram sobreviventes dos dois grupos.

A violência teve início quando a água e a comida começaram a acabar, relataram à AFP sobreviventes exaustos, muitos deles com marcas de espancamentos e ferimentos, instalados em um acampamento na província de Aceh. Alguns sobreviventes, que estão entre os 3.000 rohingyas e bengaleses que chegaram nas últimas semanas à Indonésia, citaram até 200 mortos.

Muitos sobreviventes se salvaram porque se jogaram na água quando os confrontos começaram e foram socorridos por pescadores locais, que os levaram até a costa. Os rohingyas e os bengaleses trocam acusações sobre quem iniciou os confrontos.

"De repente os bengaleses saíram do convés e atacaram todos os que estavam na parte superior do barco", disse à AFP um migrante rohingya, Asina Begun, de 22 anos, instalado em Langsa, um povoado de Aceh.

"Os que queriam salvar suas vidas tiveram que saltar ao mar, mas meu irmão não conseguiu. Quando o encontraram, o espancaram, degolaram e lançaram no mar", afirmou Begun.

Já testemunhas bengalesas disseram que os rohingyas, uma minoria muçulmana perseguida em Mianmar, eram favorecidos pelo capitão do barco, que lhes dava quase toda a água e comida, e que foram atacadas quando pediram que os suprimentos fossem compartilhados.

Mohammad Murad Hussein, um bengalês, contou que os rohingyas estavam no convés superior do barco e os bengaleses, que formavam a maior parte dos passageiros, estavam no convés inferior.

Os rohingyas tentaram impedir que os bengaleses subissem no convés superior e os atacaram com machados e água quente, disse Hussein, de 30 anos.

"A partir da ponte superior nos jogavam água quente e água misturada com pimenta e os que conseguiam subir eram atacados com facas", contou Hussein, ao mesmo tempo em que mostrava seu corpo coberto de cicatrizes.

"Percebemos que íamos morrer, razão pela qual decidimos lutar", acrescentou.

No entanto, o rohingya Mohammad Amih afirmou que os bengaleses foram os que atacaram primeiro quando eles falaram que seria preciso racionar água em benefício das crianças.

Quando os bengaleses chegaram ao convés superior, Amih tentou se esconder entre as mulheres, mas foi descoberto.

"Bateram na minha cabeça e depois me jogaram do barco. Me salvei nadando até os barcos dos pescadores locais", disse Amih.

Ainda abalados pelo pesadelo vivido na embarcação, os migrantes vivem a angústia de não poder entrar em contato com seus familiares, com quem não se comunicam há vários meses, quando embarcaram nesta trágica travessia.

"Não podemos telefonar para nossas famílias, que não sabem se estamos vivos ou mortos. Provavelmente pensam que todos morremos", comentou angustiado o bengalês Mohammad Ali Meshar.

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