Cerca de uma tonelada de estátuas, presas esculpidas, joias e objetos de decoração feitos em marfim foi destruída nesta sexta-feira (19) na Times Square de Nova York, em uma operação feita pelas autoridades para denunciar o contrabando que mata milhares de elefantes anualmente.
Sob as luzes de néon da praça mais famosa do mundo e em meio a aplausos dos espectadores, as autoridades depositaram os objetos um após o outro em uma correia transportadora que os levavam a um triturador usado geralmente para destruir pedras.
Os itens foram confiscados principalmente uma loja de artigos de arte na Filadélfia (leste dos Estados Unidos), cujo proprietário foi condenado à prisão.
Esta operação "lembra o resto do mundo que os Estados Unidos não vão tolerar os crimes contra a vida selvagem, especialmente contra os animais emblemáticos que estão em perigo", afirmou Sally Jewell, secretária do DOI (departamento responsável pela administração de parques nacionais e conservação dos Estados Unidos, ndlr).
A secretária observou que, entre 2011 e 2014, a caça furtiva de elefantes na África "alcançou o maior nível já registrado. Em três anos, cerca de 100.000 elefantes foram mortos por causa do marfim".
Ela também disse que a demanda por marfim está crescendo em todo o mundo e que as redes de crime organizado enxergam o comércio como um negócio de baixo risco e altos rendimentos.
Durante a destruição dos objetos de marfim, em meio à multidão, dezenas de manifestantes levavam cartazes que lembravam que, diariamente, 96 elefantes morrem vítimas dos caçadores ilegais que contrabandeiam suas presas.
Um estudo divulgado quinta-feira na revista Science também disse que o comércio ilegal é responsável pela morte de 50.000 elefantes africanos por ano e resulta na perda de 40-50 toneladas de marfim.
Queda catastrófica
É a segunda vez que as autoridades norte-americanas organizam uma destruição tão grande de marfim. Em novembro de 2013, o serviço de proteção da fauna e da flora (US Fish and Wildlife Service, USFWS), no âmbito do DOI, organizou a destruição de mais de cinco toneladas em Denver, Colorado (oeste).
A operação simbólica desta sexta-feira foi coordenada pelo USFWS e o Departamento de Conservação Ambiental de Nova York, com dezenas de ONGs em defesa dos animais.
"Hoje não estamos apenas destruindo o marfim obtido de forma ilegal, também queremos destruir o mercado de marfim sangrento", explicou Cristian Samper, chefe da ONG Wildlife Conservation Society (WCS). "Estamos destruindo a esperança dos caçadores furtivos que acham que irão se beneficiar matando os elefantes da Terra".
A WCS lembrou que houve ações similares no mundo. A primeira ocorreu no Quénia em 1989, depois na Zâmbia em 1992 e nos últimos anos a cena repetiu-se no Gabão, Filipinas, Bélgica, Chade, China, França, Congo, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e os Estados Unidos.
O comércio internacional de marfim foi proibido desde 1989, por isso é ilegal ou severamente regulamentado em muitos países. O estado de Nova York e o vizinho Nova Jersey recentemente proibiram a venda e o comércio de marfim.
O maior mercado é a China, que responde por 70% da demanda mundial, mas os Estados Unidos continuam a ser o segundo maior mercado do mundo.
"Nós somos parte do problema, devemos agora também ser parte da solução", argumentou Jewell.
De acordo com um estudo recente, a situação é particularmente preocupante na Tanzânia, onde a população de elefantes sofreu uma "queda catastrófica" nos últimos cinco anos, passando de 109 051 unidades em 2009 caiu para 43 330 em 2014, de acordo com a ONG especializada Traffic, segundo a qual a caça ilegal de elefantes é um negócio "de escala industrial".
Outro estudo recente mostrou que a forte demanda por marfim no mundo pode render a um contrabandista africano 3 mil dólares para um par de presas de elefante. Este número é maior do que o salário anual de muitos africanos.