A Grécia pediu nesta terça-feira (30) a extensão de dois anos do programa europeu de assistência financeira, a poucas horas dar o calote no FMI e do fim da ajuda de seus sócios da zona do euro.
Em um comunicado, o governo de Alexis Tsipras afirma que "segue na mesa de negociação", apesar do referendo convocado para 5 de julho sobre as últimas condições dos credores (UE e FMI) para um acordo que continue garantindo o financiamento do país.
Concretamente, o governo de Atenas propôs nesta terça-feira "um acordo de dois anos" com o Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (MEDE), o fundo permanente de resgate da Eurozona, a fim de garantir a "cobertura plena de suas necessidades de financiamento" durante esse período.
A poucas horas da meia-noite (horário local), o governo grego pede "uma reestruturação da dívida pública, uma de suas principais condições para um acordo com seus credores".
O presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, garantiu que o pedido seria avaliado em uma teleconferência. E ao fim da reunião, o ministro eslovaco da Economia anunciou que a Eurozona rejeitou a extensão do plano de ajuda financeira.
"O último limite para estender o programa era este fim de semana. Pelos procedimentos parlamentares, é impossível estendê-lo além de hoje", escreveu o ministro Peter Kazimir em sua conta no Twitter.
Seu homólogo finlandês, Alex Stubb, afirmou que a extensão "não é possível" e garantiu que uma demanda de um novo programa de resgate dentro do Mecanismo Europeu de Estabilidade "será examinada segundo os procedimentos habituais".
Uma fonte do governo grego assegurou de Atenas que as negociações serão retomadas na quarta-feira.
"O Eurogrupo acaba de terminar. Continuaremos amanhã de manhã para permitir aos ministros da Economia examinar as propostas do governo grego", explicou a fonte.
A chanceler alemã, Angela Merkel, já havia adiantado pela manhã que seu país não negociará com Atenas "uma nova ajuda" antes do referendo de domingo.
As bolsas europeias, preocupadas pelo futuro imediato da Grécia, continuaram caindo nesta terça-feira, embora menos do que na véspera. Paris caiu 1,63%, Frankfurt 1,25%, Londres 1,5%, e Madri 0,78%.
A agência de classificação de risco Standard and Poor's declarou o 'default parcial' dos quatro grandes bancos gregos - NBG (Banco Nacional da Grécia), Pireo, Eurobank e Alpha -, após a implementação do controle de capitais a fim de evitar a fuga massiva de divisas. A agência Fitch decidiu o mesmo na segunda-feira.
Moratória próxima
Salvo alguma surpresa de última hora, o governo grego será incapaz de pagar a tempo o 1,549 bilhão de euros devidos ao Fundo Monetário Internacional, credor do país junto com a Comissão Europeia e com o Banco Central Europeu.
A moratória acontecerá em meio a um controle de capitais, em que bancos gregos e a bolsa de Atenas ficarão fechados até o dia 6 de julho.
Pela medida vigente desde segunda-feira, os clientes dos bancos gregos só podem sacar no máximo 60 euros por dia e pessoa. A partir de quarta-feira, cerca de mil filiais vão abrir excepcionalmente para permitir aos aposentados que não têm cartão de crédito fazer retidas de no máximo de 120 euros para toda a semana.
Nesta terça-feira, os mercados dão por certa a moratória grega, que segundo especialistas e políticos não deve ter, a princípio, "grandes consequências", como disse o ministro francês da Economia Michel Sapin.
Já a Comissão Europeia anunciou que espera um acordo "de última hora".
"Desde o primeiro momento deixamos claro que a decisão de celebrar um referendo não significa o fim, mas a continuação da negociação com termos melhores para o povo grego", observou o governo em seu comunicado.
"O governo grego reivindicará até o final um acordo viável dentro do euro. Essa será também uma mensagem de 'não' a um mal acordo, no referendo de domingo, 5 de julho", insiste o comunicado.
O governo criou neste terça-feira uma página na internet específica sobre o referendo: http://www.referendum2015gov.gr/
Rajoy se posiciona
Vários líderes europeus tentaram nesses dias apresentar o referendo sobre a permanência ou não da Grécia ma Eurozona.
O governo grego rejeita esse argumento, em um país em que o apoio ao euro é claramente majoritário, e afirma que o objetivo dessa estratégia é enfraquecer o executivo de esquerda, oposto à doutrina de austeridade que vigorou nos últimos cinco anos.
Os líderes da UE "têm medo do avanço de forças como [o partido espanhol de esquerda] Podemos, e querem detê-los", afirmou o ministro grego de Trabalho, Panos Skourletis em uma entrevista publicada pelo jornal El Mundo.
Nesta mesma terça-feira o presidente do governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy, foi o primeiro mandatário europeu a defender abertamente uma mudança de governo na Grécia.
"Se o referendo for realizado e se Tsipras o perder, isso será bom para a Grécia, porque os gregos terão dito 'sim, queremos permanecer no euro', e se poderá negociar com outro governo", afirmou Rajoy em uma entrevista.