Maconha sintética é cada vez mais consumida nos Estados Unidos

O produto de base vem principalmente da China e os ingredientes que a compõe podem ser variados e dosificados ao infinito para estar sempre um passo à frente da lei e da regulamentação
Da AFP
Publicado em 20/08/2015 às 18:58
O produto de base vem principalmente da China e os ingredientes que a compõe podem ser variados e dosificados ao infinito para estar sempre um passo à frente da lei e da regulamentação Foto: Foto: Maj Will Cox/ Georgia Army National Guard


A maconha sintética é conhecida por nomes exóticos - K2, Spice, Bizarro e Stoopid - e é vendida em pequenos pacotes de aspecto inofensivo, mas seu "efeito zumbi" preocupa as autoridades sanitárias dos Estados Unidos.

O produto de base vem principalmente da China e os ingredientes que a compõe podem ser variados e dosificados ao infinito para estar sempre um passo à frente da lei e da regulamentação.

"Podem ser vistos em todas as partes do país", informou Chuck Rosenberg, diretor interino da DEA, a agência federal encarregada da luta contra o tráfico de drogas, à rádio pública.

"As misturas variam. Os produtos químicos variam. Você e eu poderíamos comprar e usar o mesmo pacote e termos reações muito diferentes ao produto", explicou.

Desde o início do ano, os centros de desintoxicação em todo o país receberam 5.200 consultas por incidentes vinculados à maconha sintética. O aumento é espetacular. Em 2014, a quantidade de consultas era de 3.680 e eram somente 2.668 um ano antes, segundo as estatísticas da associação nacional de centros de desintoxicação.

"A maconha sintética pode causar ansiedade extrema, paranoia, crises de angústia, dissociações, episódios psicóticos e alucinações", adverte o site k2zombiedc.com, administrado pela cidade de Washington e dirigido aos jovens.

"Estes comportamentos são conhecidos como 'efeito zumbi'", alerta o site.

 

Viciante e mortal

A maconha sintética pode parecer à primeira vista maconha natural, mas pode ser viciante e mortal devido à forte concentração de produtos destinados a imitar o tetrahidrocanabinol (THC), o princípio ativo da planta.

O efeito destes produtos químicos sobre os receptores cerebrais pode ser "100 vezes mais potente que o THC", explicou à AFP Marilyn Huestis, investigadora do instituto nacional americano sobre o abuso de drogas.

Como a regulamentação nunca é atualizada tão rápido como o produto, este pode ser encontrado legalmente nas estantes de pequenas lojas de alimentos de bairro, postos de gasolina e, sobretudo, na internet.

Uma rápida busca na rede e um cartão de crédito alcançam a droga.

"Eu adoro", declara um cliente de um dos sites que vendem "Bizarro". "Dou uma pontuação de 9/10. É um produto muito potente e a entrega é realmente rápida".

Segundo uma pesquisa realizada em 2012 pela Universidade de Michigan, a maconha sintética era a segunda droga mais consumida pelos jovens cursando a faculdade, ficando atrás apenas da maconha natural.

"É um problema monstruoso", declarou Huestis.

"Todo mundo pensa que se trata somente de uma droga", alertou Mark Ryan, diretor do centro de controle de envenenamento da Luisiana. Mas "sabemos que há mais de 300 tipos de drogas diferentes que estão em circulação no momento em que estou falando", explicou, em uma entrevista telefônica.

 

 

Difícil de identificar

Outro problema é que é quase impossível identificar os produtos químicos com os testes padrões à disposição das forças de ordem.

"Realizamos 65 prisões de compradores e de vendedores do produto nos últimos dois meses", explicou a chefe da polícia de Washington, DC, Cathy Lanier, em uma reunião pública nesta semana. "E não podemos condená-los na justiça", afirmou.

Washington é uma das cidades mais afetadas pelo fenômeno.

No início de agosto, a polícia atirou e feriu uma mulher de 22 anos, sob a influência da maconha sintética, que segurava uma faca e dizia ameaças.

Em junho, nove pessoas foram hospitalizadas de emergência após uma overdose.

O estado de Nova York registrou 1.900 visitas às emergências vinculadas ao consumo da substância, entre abril e junho deste ano.

O risco de vício é real, como demonstram os testemunhos reunidos no site SpiceAddictionSupport.org.

"Tudo o que importava para mim era fumar 'Spice'", declarou Taylor. "Os efeitos da falta (da substância) eram severos (...). Já não era eu, vivia encostado vendo a vida passar na minha frente como se estivesse no cinema".

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