Diferente do nazismo no passado, Alemanha hoje lidera apoio aos imigrantes

O governo alemão já é saudado por analistas pelas ações mais humanitárias na recepção de quem foge de nações como Síria, Eritreia e Afeganistão
MARCOS OLIVEIRA
Publicado em 19/09/2015 às 15:40
O governo alemão já é saudado por analistas pelas ações mais humanitárias na recepção de quem foge de nações como Síria, Eritreia e Afeganistão. Foto: Foto: NIKOLAY DOYCHINOV / AFP


Passada a onda de campanhas solidárias motivada pela repercussão da imagem do menino Aylan Kurdi, de três anos, encontrado morto em uma praia turca, vários países europeus voltaram a adotar medidas de restrição e até prisões contra imigrantes e refugiados. Com exceção de um. A Alemanha, da chanceler Angela Merkel, embora tenha limitado a entrada desses estrangeiros na semana passada, tenta aprovar na próxima quarta-feira um plano para distribuir asilados dentro da União Europeia. O governo alemão já é saudado por analistas pelas ações mais humanitárias na recepção de quem foge de nações como Síria, Eritreia e Afeganistão. Com isso, o país, cuja história carrega o peso dos milhões de pessoas executadas sob o governo de Adolf Hitler (1933-1945), começa a ganhar uma nova imagem. 

Enquanto países militarizam suas fronteiras, como Polônia e Hungria (que prendeu centenas de imigrantes ilegais), a Alemanha deverá acolher aproximadamente um milhão de refugiados, cinco vezes mais que em 2014 e onze vezes mais que a França. Partiu da chanceler Angela Merkel, tratada pelos que buscam abrigo como a “mãe dos refugiados”, a proposta de cotas de asilados que cada país da União Europeia se comprometeria a receber. Em visita a um centro de registro de refugiados, na semana passada, a líder foi recebida com festa tendo tirado dezenas de selfies com os que esperavam para se registrar.

Mesmo tendo estabelecido controles nas fronteiras no domingo passado (13), após ter recebido 13 mil imigrantes só no dia anterior, Angela Merkel lidera um país que vai investir nessa questão imigratória mais de US$ 6 bilhões. A maior economia do continente é também a que mais vai destinar recursos para essa ação. Depois de ter sido recusado em reunião do bloco europeu na última segunda-feira, o plano de cotas ainda segue sofrendo dura oposição de países do leste europeu. 

A ideia é distribuir até 160 mil asilados entre os 28 países. A professora do curso de Relações Internacionais da PUC-SP Claudia Marconi analisa que historicamente a Alemanha tem assumido essa postura de protagonismo, sendo ratificada agora no caso dos imigrantes. A última questão nesse sentido citada por Claudia é a crise com a Grécia, em que coube a Angela Merkel, neste caso vista com uma postura nada condescendente, ficar na linha de frente das negociações.

“Mas essa postura alemã é híbrida, não fui uniforme. Há pouco tempo países como Itália e Grécia eram os mais atingidos pela onda imigratória e a Alemanha pouco fez. Viu, por exemplo, a operação Mare Nostrum (intervenção italiana de resgate imigratório) acabar sem um posicionamento contundente contrário”, pontua a especialista. 

Essa dualidade mostrada pela professora é vista ainda por uma proposta muito parecida com a que hoje defendem os germânicos, mas que foi avaliada com ressalvas em junho. Na ocasião, França e Alemanha manifestaram preocupação com a proposição da Comissão Europeia de redistribuir imigrantes. À época eram 40 mil pessoas que precisavam de abrigo. 

Dentro da própria fronteira, o historiador Bruno Mattos, mostra que o desafio de Merkel cresce com a ascensão dos grupos extremistas. O partido neonazista NPD é acusado de estar por trás de 202 ataques a abrigos para refugiados no leste da Alemanha, de acordo com dados do Ministério do Interior. “Na própria base também existe discordância com uma postura mais acolhedora. Mesmo com todos os percalços, a postura integradora da Alemanha mostra o papel que se espera do verdadeiro líder do continente”, ressalta Mattos.

 

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