Primeiros bombardeios franceses contra o EI na Síria

Desde 22 de setembro do ano passado, a coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos bombardeou quase 7.000 vezes
Da AFP
Publicado em 27/09/2015 às 17:52
Desde 22 de setembro do ano passado, a coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos bombardeou quase 7.000 vezes Foto: Foto: AFP


A França realizou neste domingo seus primeiros ataques aéreos contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria, em nome de sua "segurança nacional", quando Rússia e as potências ocidentais discutem estratégias para enfrentar o grupo jihadistas

O presidente francês, François Hollande, disse que seis aviões, incluindo cinco Rafale, atacaram alvos do Estado Islâmico nas proximidades de Deir Ezzor, no leste da Síria.

Hollande explicou na sede da ONU, em Nova York, que a "França atacou um campo de treinamento do grupo Estado Islâmico que ameaçava a segurança de nosso país" e afirmou que novos ataques poderão ser realizados "nas próximas semanas".  

A intervenção francesa ocorreu às vésperas da Assembleia Geral da ONU, quando a questão síria voltará a ser abordada, após quatro anos de uma guerra civil que já matou 240.000 pessoas e levou centenas de milhares de refugiados para a Europa. 

Após enviar tropas e aviões de combate para a Síria, o presidente russo Vladimir Putin lançou neste domingo uma nova coalizão para enfrentar o Estado Islámico (EI) na Síria, num esforço conjunto com líderes regionais.

"Propusemos cooperar com os países da região. Estamos tentando estabelecer uma espécie de marco coordenado", disse Putin em entrevista à rede de televisão CBS. 

"Seria bom termos uma plataforma comum para a ação coletiva contra os terroristas", afirmou o presidente russo. 

Moscou já possui um poderoso aparato militar em uma base aérea num território controlado pelo governo sírio, com aviões e tanques, e agora passará a trabalhar mais próximo ao vizinho Iraque. 

Saad al Hadithi, porta-voz do primeiro-ministro iraquiano Haider al Abadi, disse à AFP que funcionários de Rússia, Irã, Síria e Iraque trabalharão juntos em Bagdá. 

"É um comitê de coordenação entre os quatro países, com representantes de cada um, no campo de inteligência militar", disse. 

O presidente iraniano Hassan Rouhani afirmou também neste domingo estar disposto a discutir um "plano de ação" para a Síria uma vez que acabe a guerra e o grupo Estado Islâmico seja derrotado.

Enfatizou também que o governo sírio deve ser parte desta discussão. 

"Mas todos devemos atuar em uníssono e ter a fórmula capaz de expulsar os terroristas, imediatamente", afirmou em entrevista à emissora NPR.

Irã e Rússia apoiam o regime sírio de Bashar al-Assad, com Teerã dando apoio financeiro e militar.

 

O papel de Assad

A implantação das tropas russas e aviões de combate na Síria marcou uma mudança no solo, mas os ventos também mudaram na frente diplomática, enquanto os líderes tentam encontrar uma solução política.

As potências ocidentais, que antes se recusavam a negociar com Assad, suavizaram o discurso e agora afirmam que o líder poderia ficar como parte de uma transição. 

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, feroz crítico de Assad, sugeriu pela primeira vez na quinta-feira que Assad poderia ter um papel na transição política.

Estados Unidos e os países europeus até agora consideravam Assad "parte do problema, não da solução" para a crise, acusando-o pela maioria das mortes de guerra.

Mas a estratégia parece ter fracassado: esta semana o Pentágono confirmou que os últimos combatentes treinados pelos Estados Unidos para entrar na Síria entregaram grande parte de sua munição à Al-Qaeda.

Rohani garantiu neste domingo, desta vez em entrevista à CNN, que há um consenso internacional para a manutenção de Assad.

"Acredito que hoje todo o mundo tenha aceitado que o presidente Assad deve permanecer (no poder) com o intuito de combater os terroristas", declarou o iraniano. 

"Irã e Estados Unidos não tiveram diálogos diretos sobre a Síria", explicou Rohani, mas Teerã está discutindo com os europeus e outras partes, que estão em contato com os Estados Unidos, afirmou.

 

Estratégia em xeque

As discussões sobre a urgência do fim da guerra ocorrem depois de um ano de ataques aéreos pela coalizão de Estados árabes sunitas e os países ocidentais liderados pelos Estados Unidos, que admitem vários problemas em sua estratégia.

Desde 22 de setembro do ano passado, a coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos bombardeou quase 7.000 vezes (4.444 ataques no Iraque e 2.558 na Síria), de acordo com dados do comando americano. Quase 80% desses ataques foram realizados por aviões americanos.

Até agora, a campanha aérea da coalizão não atingiu os resultados esperados. No Iraque, nenhuma grande cidade foi recuperada pelas forças pró-governo. Na Síria, apesar de o EI ter sido contido pelos curdos ao longo da fronteira com a Turquia, os jihadistas tomaram Palmyra em maio e fizeram recentemente progressos na região de Aleppo, ameaçando perigosamente as rotas de abastecimento para a Turquia de outros grupos rebeldes.

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