Conheça Fabien Clain, a 'voz' dos atentados de Paris

Seu perfil e histórico mostram que é um alto responsável e mentor natural para os mais jovens dentre os 850 franceses e belgas
Da AFP
Publicado em 18/11/2015 às 17:50
Seu perfil e histórico mostram que é um alto responsável e mentor natural para os mais jovens dentre os 850 franceses e belgas Foto: Foto: OFF / AFP


Fabien Clain, que teve a voz identificada em uma reivindicação dos atentados de Paris pelo Estado Islâmico (EI), é um veterano do jihadismo francês, ligado a Mohamed Merah, que, em 2012, matou sete pessoas na França.

Seu tom não é agressivo; a voz é doce, pausada. Mas as palavras são de uma violência excepcional ao realizar congratulações pela morte de "infiéis" do Bataclan, a casa de espetáculos atacada durante a série de atentados em Paris, que afetou também bares, restaurantes e um estádio de futebol. 

Clain disse que este ataque, que deixou 129 mortos, "só foi o início da tempestade e uma advertência para aqueles que desejam pensar e tirar conclusões". 

O francês, de 37 anos, não pertence à geração dos "jihadistas do Facebook" que viajaram à Síria após uma inscrição online rápida e têm pouco conhecimento em assuntos religiosos. 

Seu perfil e histórico mostram que é um alto responsável e mentor natural para os mais jovens dentre os 850 franceses e belgas que estariam na Síria atualmente. 

Convertido ao Islã nos anos 1990, este homem originário da ilha francesa de Reunião, situada no Oceano Índico, parece ter se radicalizado na primeira metade dos anos 2000, assim como seu irmão, Jean-Michel, de 35 anos. 

Ele pertencia, até então, a um grupo de jovens salafistas que frequentavam uma sala de orações no conflituoso bairro de Mirail, em Toulouse (sudeste).   

"Era uma pessoa amável, afável e sorridente", recorda em declarações à AFP o imã Mamadou Daffé. 

Em meados dos anos 2000, o imã descobre que é alvo de críticas dos jovens salafistas. Em 2005, Clain não volta ao lugar "porque não estava de acordo com os sermões", disse.

Desde então, o grupo se reúne em um povoado situado ao sul de Toulouse, Artigat, ao redor do "guru" Olivier Corel. 

De origem síria, o "Emir branco", agora septuagenário, preside como um "sábio na religião" para os jovens que muitas vezes vêm à sua pequena casa para ouvir seus sermões.

 

"Ódio contra os infiéis'

Da mesma forma que outro o convertido Thomas Barnouin, Fabien Clain, conhecido como "irmão Omar", tem certa influência intelectual no grupo, especialmente entre os irmãos Abdelkader e Mohamed Merah, e um de seus amigos próximos, Sabri Essid.

Vigiado cada vez mais de perto, o grupo de Toulouse-Artigat aparece nos radares da justiça no final de 2006. No dia 12 de dezembro, Essid e Barnouin são interceptados pelo exército sírio, quando viajavam para combater tropas americanas no Iraque. Após alguns meses detidos, são entregues à justiça francesa. 

Corel e Abdelkader Merah foram colocados sob escuta, mas Essid, Barnouin e Clain, apresentado como um "organizador" da rede jihadista, são condenados. 

A fiscalização fustiga "o ódio contra os infiéis" que incentiva os membros dessa rede.

Fabien Clain está preso quando Mohamed Merah comete os assassinatos de três miliares, um professor e três crianças em frente a uma escola judia, em Toulouse e Montauban, em março de 2012.

Mas os dois indivíduos mantinham contato por cartas durante os períodos de cárcere de Merah por delitos comuns, assim como os anos de prisão de Clain.

Clain se dessolidarizou publicamente com os assassinatos de Merah e, com sua libertação, meses depois, já não voltou à Toulouse.

Logo foram encontrados rastros de sua presença na Síria. Quando partiu? Talvez no mesmo período em que o fez o clã dos de Toulouse, que burlaram a vigilância dos serviços franceses de maneira escandalosa no primeiro semestre de 2014.

Neste ano, o nome de Fabien Clain apareceu na investigação sobre um ataque executado em abril contra uma igreja em Villejuif, um subúrbio do sul da capital.

No sábado, sua voz reivindica, em nome do EI, o massacre parisiense, segundo autoridades.

Nesta gravação, glorifica os homens-bomba, "soldados do califado" que "atacaram a capital das abominações e da perversão". "Que Deus os aceite entre os mártires e permita que voltemos a nos encontrar", acrescenta a voz. 

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