Os pré-candidatos democratas à presidência dos Estados Unidos deixaram as disputas internas de lado no sábado (19), no terceiro debate da campanha, e centraram artilharia no principal adversário entre os republicanos, Donald Trump, que chegaram a definir como "recrutador" do grupo Estado Islâmico (EI).
A ex-secretária de Estado Hillary Clinton e o senador Bernie Sanders deixaram de lado divergências públicas dos últimos dias e, ao lado do ex-governador de Maryland Martin O'Malley, se empenharam no debate.
Clinton é a grande favorita entre os democratas, com quase 50% de apoio, enquanto que Sanders fica um pouco acima de 30% e O'Malley aparece com 4% de preferência.
Este foi o terceiro debate entre os pré-candidatos democratas, o primeiro depois do ataque em San Bernardino, Califórnia, em que um casal matou 14 pessoas.
Neste contexto, conscientes da necessidade de estabelecer uma diferença em relação a Trump, o favorito entre os republicanos, os três aspirantes democratas não economizaram palavras, em particular a respeito da proposta do magnata republicano de ventar a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos.
Trump "está se transformando no melhor recrutador do grupo Estado Islâmico", disse Hillary Clinton, alegando que o grupo radical "distribui vídeos de Donald Trump insultando o Islã e os muçulmanos, para recrutar jovens combatentes".
O'Malley destacou a necessidade de conter o "perigo político" que representam Trump e "líderes inescrupulosos que se propõem a nos dividir".
"O símbolo dos Estados Unidos não é uma barreira de alambrado, e sim a Estátua da Liberdade. Não podemos renunciar a nossos valores ante declarações fascistas de milionários charlatães. Somos um país melhor do que isto", disse.
Quando os pré-candidatos mudaram de assunto, as diferenças ficaram claras, especialmente no momento que se discutiu o poder das grandes corporações e de Wall Street nas campanhas políticas.
"Wall Street tem que ser derrubado", disse Sanders, porque o poderio econômico está "corrompendo" o sistema político.
Sanders ressaltou que seu comitê de campanha não recebe dinheiro das corporações, nem de Wall Street, antes de afirmar que Hillary Clinton se beneficia de doações milionárias.
As divergências também ficaram evidentes quando Sanders e O'Malley criticaram as propostas de Clinton sobre o combate ao EI por sua aparente falta de foco.
"Os Estados Unidos não podem, ao mesmo tempo, enfrentar Bashar al-Assad (presidente sírio) e o Estado Islâmico. A prioridade é o Estado Islâmico. Vamos tratar de Assad mais tarde", afirmou Sanders.
Clinton insistiu que discorda do envio de tropas terrestres para combater na Síria e no Iraque e afirmou que tem uma estratégia para "derrotar o Estado Islâmico sem levar o país para outra guerra", mas sem revelar detalhes.
Desculpas
O debate aconteceu um dia depois de uma crise no Partido Democrata, por denúncias de assessores de Sanders acessaram de maneira indevida bases de dados eleitorais organizadas pela campanha de Clinton.
Sanders tirou o impacto da questão no início do debate ao pedir desculpas a Clinton, mas sem esconder a irritação com o partido.
"Não apenas apresento minhas descuplas à senhora Clinton. Também espero que possamos trabalhar junto em uma auditoria independente sobre o ocorrido", afirmou Sanders, que também pediu desculpas "a mes eleitores. Porque este não é o tipo de campanha que queremos levar adiante".
Hillary Clinton respondeu: "Aprecio sinceramente seu comentário. E é importante que avancemos".
A crise explodiu na quinta-feira, depois que o Comitê Nacional Democrata (CND) bloqueou o acesso da campanha de Sanders às bases de dados eleitorais diante de denúncias de que um de seus auxiliares técnicos obteve informações confidenciais da campanha de Hillary.
Sanders demitiu, imediatamente, o técnico de informática e entrou com uma ação legal contra o CND em um tribunal federal por "quebra de contrato". Na noite de sexta-feira, porém, ambas as partes chegaram a um frágil acordo para apaziguar os ânimos antes do debate.