Um público bem diferente teve chance de participar de um show em plena Times Square, dias depois que cerca de um milhão de pessoas lotarem o local para dar as boas-vindas a 2016.
Em um espetáculo que contou tanto com bom humor como com uma cerca reflexão metafísica, a artista experimental Laurie Anderson fez uma apresentação que tinha como público alvo os cães.
Dezenas de cachorros reunidos na Times Square uivaram ou latiram para sons que só são perceptíveis aos seus ouvidos, mas que as centenas de humanos presentes também podiam se captar através de fones de ouvido especiais.
Anderson concebeu o show canino de segunda à noite para acompanhar seu filme mais recente, "Heart of a Dog", que utiliza a história do rat terrier que ela adotou com seu falecido marido, a lenda do rock Lou Reed, como base para uma reflexão sobre a morte e a memória.
Uma sequência de três minutos do filme, que foi originalmente encomendado pela rede franco-alemã Arte e que é uma aposta para o Oscar de Melhor Documentário, está sendo transmitida no mês de janeiro pouco antes da meia-noite em alguns dos famosos telões da Times Square.
A cena abstrata mergulha em concepções budistas tibetanas sobre a vida após a morte. Mas Anderson encarou seu show, uma ação pontual na Times Square, de forma mais leve, como um tributo ao poder unificador dos cães.
"Acho que mais pessoas estão compartilhando cães nestes dias, porque todo mundo viaja muito", declarou.
"É muito divertido - latidos na Times Square!", declarou após a performance, na qual ela deixou de lado o violino elétrico por um segmento pró-cães, liderado por sons eletrônicos.
Amantes de cachorros unidos
Anderson realizou um primeiro show para cachorros em 2010 na Sydney Opera House.
No entanto, se apresentar em Nova York conta com uma grande diferença: o tempo. Anderson, utilizando um gorro, mas sem usar luvas, e a multidão resistiram a um frio de cerca de -10 graus Celsius.
Sherry Dobbin, diretora do grupo Times Square Arts, por trás do projeto, disse que o momento foi intencional.
"Considerando-se que o filme é em grande parte sobre o momento em que se passa de uma vida para outra, pareceu muito natural realizá-lo após uma enorme celebração do fim do ano, com a chegada de um novo ano", disse ela.
Quando o relógio se aproximava da meia-noite e do dia 05 de janeiro, Anderson, com frio, mas eletrizada, alertou seu público. "Vocês podem continuar latindo", declarou.
Os cães, assim como os gatos, têm gamas de audição significativamente mais amplas do que os seres humanos. Para a composição, Anderson escolheu sons com decibéis baixos, ao invés de barulhos de alta frequência que poderiam irritar os animais.
Enquanto muitos cães reagiram, incluindo os pastores alemães do Departamento de Polícia de Nova York, outros permaneceram em silêncio e pareciam confusos.
"Eu não acho que ela tenha enriquecido culturalmente", disse Meghan Daum sobre sua cachorra Phoebe, em parte São Bernardo.
Mas Daum acrescentou que Phoebe parecia relaxada e "não ficou muito assustada".
"Acho engraçado. Penso que todos tiveram um bom senso de humor sobre isso", declarou, embora tenha acrescentado: "Não acho que seja o momento certo do ano para isso".
Ami Schrager aquecia seus dois cachorros - Buttercup, uma Westie de seis anos, e Lucas, um poodle toy de nove anos - com cobertores em um carrinho de bebê.
Schrager encarou o show como outra vitória para os amantes dos cães, depois que Nova York pôs fim recentemente a um banimento de levar cães a restaurantes ao ar livre.
"Comparecerei a tudo o que for 'dog-friendly', mesmo que seja à meia-noite e num clima congelante", destacou.