O Irã liberou nesta quarta-feira (13) os 10 marinheiros americanos retidos na véspera a bordo de duas embarcações que haviam entrado em águas territoriais iranianos, depois de considerar que o problema não foi deliberado. "Ficou estabelecido que a entrada nas águas territoriais do país não foi intencional. Depois de pedir desculpas, foram liberados em águas internacionais", afirma um comunicado da Guarda Revolucionária, divulgado pela televisão estatal iraniana.
A liberação havia sido antecipada pelo almirante Ali Fadavi, comandante da Marinha da Guarda Revolucionária, a unidade de elite do regime islâmico. A ação dos marinheiros "não era hostil, nem estava destinada a espionar", afirmou Fadavi. "A entrada dos marinheiros americanos nas águas territoriais foi provocada por uma falha no sistema de navegação", explicou.
Na terça-feira à noite, o governo dos Estados Unidos anunciou que havia perdido contato com as embarcações. "Nesta terça-feira perdemos contato com dois pequenos barcos militares que navegavam entre Kuwait e Bahrein", disse à AFP uma fonte americana. Mas Washington evitou jogar lenha na fogueira ao afirmar que "nada indicava" que se tratasse de um ato hostil da parte do Irã.
"Estivemos em contato com os iranianos, que nos afirmaram que os marinheiros estavam em segurança e que poderiam continuar a viagem rapidamente", disse ao canal CNN a diretora da Comunicação da Casa Branca, Jennifer Psaki. A Guarda Revolucionária confirmou durante a noite a interceptação das embarcações americanas.
Os dois barcos americanos entraram em águas territoriais iranianas nos arredores da ilha de Farsi e foram interceptados pelas unidades de guerra das Forças Navais da Guarda Revolucionária, que os rebocaram para a ilha, segundo um comunicado.
O secretário de Estado americano, John Kerry, telefonou na terça-feira para o chanceler iraniano Mohamad Javad Zarif. O almirante Fadavi confirmou nesta quarta-feira a conversa e disse que "Zarif teve uma posição muito firme insistindo que os marinheiros estavam em águas territoriais do Irã e que era necessário um pedido de desculpas dos Estados Unidos".
Washington e Teerã romperam relações em abril de 1980, poucos meses depois da revolução islâmica, mas os dois chefes da diplomacia estão em contato regular desde 2013, em função das negociações sobre o programa nuclear iraniano. No passado foram registrados incidentes entre a Marinha americana e a Força Naval da Guarda Revolucionária.
No fim de dezembro, uma fonte americana afirmou que a Marinha iraniana havia realizado disparos de teste perto de três navios americanos e franceses, uma informação desmentida pela Guarda Revolucionária. O incidente de terça-feira aconteceu no momento em que o Irã e as grandes potências se preparam para implementar o acordo nuclear assinado ano passado em Viena.
Teerã se comprometeu em Viena com as grandes potências a não desenvolver armamento atômico, em troca de uma retirada progressiva e controlada das sanções internacionais. O acordo provocou a revolta dos aliados tradicionais dos Estados Unidos na região, em particular Arábia Saudita e Israel, que temem uma reconciliação entre Estados Unidos e Irã.
O governo de Barack Obama nega ter em mente o restabelecimento de relações diplomáticas com a República Islâmica, mas ao mesmo tempo busca um "equilíbrio" no Oriente Médio, com a esperança de encontrar uma solução para as guerras que afetam a região, em particular a que está devastando a Síria há quase cinco anos, segundo analistas. Washington tem uma forte presença militar nesta região. A V Frota tem como base o Bahrein.