Uma clínica móvel com uma equipe médica está a caminho da cidade rebelde síria de Madaya para tratar pacientes que sofrem de desnutrição, um dia depois que uma equipe do Unicef testemunhou a morte por inanição de um adolescente. Numa altura em que os bombardeios russos permitiram que as forças do regime retomasse a ofensiva contra os rebeldes, Moscou anunciou nesta sexta-feira que realizará operações humanitárias na Síria e que sua intervenção militar não terá limite de tempo.
"Uma clínica móvel da OMS e do Crescente Vermelho está a caminho de Madaya para atender 'in situ' as pessoas que sofrem de desnutrição", declarou à AFP Rana Sidani, chefe regional da OMS. Sidani afirmou que as equipes já examinaram 350 pessoas e que muitas delas sofrem de desnutrição grave.
Nesta cidade rebelde perto de Damasco a situação é particularmente dramática depois de seis meses de cerco total por parte do regime, que condenou à desnutrição seus 42.000 habitantes, incluindo 20.000 crianças. "A equipe do Unicef assistiu na quinta à tarde em uma clínica de campanha em Madaya à morte de Ali, um jovem de 16 anos, que sofria de desnutrição grave. Foi triste e chocante", afirmou à AFP a porta-voz regional da organização, Juliette Touma.
Nesta clínica, dois médicos e duas enfermeiras cuidam de pacientes em condições complexas. Das 25 crianças menores de cinco anos examinadas, 22 sofrem de desnutrição severa ou moderada. "Agora estão sendo tratados graças ao material médicos e alimentos entregues na segunda-feira", explicou em um comunicado Hanaa Singer, representante do Unicef em Damasco. Um comboio humanitário de 44 caminhões carregados de alimentos e remédios chegou esta semana em Madaya, a cerca de 40 quilômetros da capital síria.
"A equipe também examinou dez crianças e adolescentes com idade entre 6 e 18 anos. Seis sofrem de desnutrição grave, incluindo um jovem de 17 que corre risco de morte, e que precisam ser evacuados imediatamente", ressaltou Singer. A agência da ONU indicou que os médicos estão "angustiados e mentalmente exaustos, trabalhando contra o relógio com recursos muito limitados". "É simplesmente inaceitável que isso aconteça no século XXI", disse, acrescentando que existem outros 14 locais sob cerco na Síria.
Crime de guerra
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou na quinta-feira que o uso da fome como uma arma de guerra é um crime, depois que um segundo carregamento de ajuda humanitária conseguiu entrar na cidade síria rebelde de Madaya. "Deixe-me ser claro: o uso da fome como uma arma de guerra é um crime de guerra", declarou Ban a jornalistas.
"Todas as partes, incluindo o governo sírio que tem a responsabilidade primária de proteger os sírios, estão cometendo esta e outras atrocidades proibidas pelo direito internacional humanitário", ressaltou. França, Grã-Bretanha e Estados Unidos solicitaram uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU para exigir o levantamento dos cercos às cidades sírias, incluindo Madaya, anunciou nesta quinta-feira à AFP o embaixador francês.
Esta reunião, que poderá acontecer já na sexta-feira, busca "alertar o mundo sobre o drama humanitário que vive Madaya e outras cidades da Síria" sob cerco, declarou François Delattre. Mais de 260.000 pessoas morreram desde o início do conflito na Síria, que começou com uma revolta contra o governo de Bashar al-Assad, e que degenerou em uma guerra civil complexa.
EXÉRCITO RÚSSIA
O exército russo anunciou nesta sexta-feira o lançamento de operações humanitárias na Síria para levar ajuda aos civis de localidades controladas até há pouco tempo pelo grupo Estado Islâmico (EI). As forças do regime sírio tiraram 217 localidades do controle do Estado Islâmico", informou o general Serguei Rudskoi, chefe das operações do Estado-Maior do exército russo, em reunião exibida pela televisão. "A população volta progressivamente para estas cidades, de modo que a nova missão da força aérea russa na Síria consiste em realizar operações humanitárias".