O papa Francisco, em um gesto ecumênico sem precedentes em relação aos protestantes, viajará no dia 31 de outubro à Suécia para o aniversário de 500 anos da Reforma iniciada por Martinho Lutero.
Esta viagem testemunha a vontade do Papa de reaproximar os cristãos, sem, contudo, obliterar as diferenças, meio milênio após o cisma provocado pela Reforma e as guerras religiosas terríveis que se seguiram.
"Sua Santidade tem o projeto de participar em uma cerimônia entre a Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial para celebrar o 500º aniversario da Reforma, prevista em Lund, na Suécia", anunciou o Vaticano em um comunicado.
Lutero rompeu com Roma em um cisma que provocou várias guerras religiosas, especialmente na Europa.
A reunião "deve destacar os sólidos avanços ecumênicos entre católicos e luteranos", especialmente a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965), acrescenta um comunicado conjunto do Vaticano e da FLM.
Em 31 de outubro de 1517, o monge católico alemão Martinho Lutero atacou o comércio católico de "indulgências", o perdão dos pecados, expressando seus pontos de vista nas "95 Teses", que foram exibidas na porta de uma capela de Wittenberg, ao sul de Berlim.
Este ato marcou o início da ruptura, e levou à várias guerras durante as décadas seguintes. Um ódio tenaz persistiu por muito tempo, até o Concílio Vaticano II romper com este clima envenenado fazendo um apelo ao respeito mútuo.
"Sou levado pela firme convicção de que, trabalhando para a reconciliação entre luteranos e católicos, trabalhamos pela justiça, pela paz e a reconciliação em um mundo dilacerado por conflitos", declarou o secretário-geral da FLM, o reverendo Martin Junge, reiterando uma ideia muitas vezes defendida pelo papa Francisco.
Esta viagem foi uma surpresa no Vaticano. Anunciado na França e Espanha, o papa pouco se locomoveu dentro da Europa, tendo visitado apenas a Albânia, Bósnia e as instituições europeias em Estrasburgo.
Acolhido por uma mulher bispa
Na Suécia, ele descobrirá um país amplamente 'descristianizado' - um sueco em cinco se declara crente nas pesquisas - onde os católicos são ultra-minoritários.
Ele será acolhido por uma Igreja (Luterana) da Suécia que se destaca pela sua modernidade profundamente democrática, dirigida desde 2013 por uma mulher, Antje Jackelén, que ordena mulheres padres desde 1960 e tem pelo menos dois bispos abertamente gays.
Esta visita não deve agradar os tradicionalistas católicos, para quem os protestantes continuam a ser um pesadelo. Alguns católicos, mesmo os não-tradicionalistas, preferem o diálogo com os ortodoxos, mais conservadores e próximos de Roma em termos de doutrina.
O Papa manifestou repetidamente o seu respeito pelas igrejas protestantes, mas não ocultar as profundas diferenças teológicas e posições divergentes.
Visitando na Primavera em Turim a Igreja Valdense, uma igreja protestante nascida quatro séculos antes de Lutero, ele pediu "perdão" pela perseguição conduzida pelos papas católicos.
A reconciliação entre católicos e luteranos é resultado de um longo trabalho teológico, que começou em 1967 e culminou em 2013 com um documento conjunto, "Do Conflito à comunhão", em vista das comemorações de 2017.
Antes de Francisco, João Paulo II e Bento XVI já haviam feito fortes gestos em direção aos luteranos.
Em 2011, o pontífice alemão saudou em Erfurt (Alemanha) "a paixão de Deus" de Martinho Lutero.
Mas Francisco insiste menos do que seus antecessores sobre uma concepção da doutrina católica que seria superior a todas as outras.
Com cerca de 50 milhões de seguidores, os luteranos são uma das mais antigas e prestigiadas igrejas protestantes, ao lado dos batistas, pentecostais, evangelistas, etc.