O papa Francisco pediu nesta terça-feira ao presidente iraniano, Hassan Rohani, a trabalhar pela paz no Oriente Médio, no momento em que este país sai de seu isolamento internacional.
A Santa Sé ressaltou a este respeito o "papel importante" do Irã, potência regional, enquanto as sanções contra este país foram levantadas em 16 de janeiro após um acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano.
O encontro permitiu "ressaltar o importante papel que o Irã é chamado a desempenhar, com outros países da região para promover soluções políticas adequadas aos problemas que afligem o Oriente Médio, para lutar contra a difusão do terrorismo e o tráfico de armas", indicou o Vaticano em um comunicado.
"A este respeito, a importância do diálogo interreligioso e a responsabilidades das comunidades religiosas na promoção da reconciliação, da tolerância e da paz é lembrada", ressalta o texto.
Uma alusão à necessária reconciliação entre sunitas e xiitas, num momento em que seus maiores representantes, a Arábia Saudita e o Irã, se opõem, e que o conflito entre os dois ramos do Islã tem repercussões da Síria ao Líbano, passando pelo Iêmen.
Apesar de a rivalidade histórica com a Arábia Saudita e o conflito na Síria não terem sido citados, a Santa Sé nunca escondeu sua preocupação com o aumento das tensões entre Riad e Teerã.
Para o Vaticano, é essencial que não haja intervenções armadas, que o diálogo seja privilegiado e que os grupos armados apoiados pelo Irã sejam acalmados.
O presidente Rohani respondeu a essas preocupaçãos, antes mesmo de encontrar Jorge Bergoglio, afirmando nesta manhã a empresários italianos e iranianos que o Irã não intervém nos assuntos internos de outros países e que não deseja invadir qualquer lugar da região.
Trata-se da primeira visita à Europa em 17 anos de um chefe de Estado iraniano.
"Muito obrigado pela sua visita e eu o espero em paz", declarou o Papa em italiano.
"Por favor, ore por mim. Fez-me muito bem encontrá-lo, e desejo-lhe um bom trabalho", respondeu em farsi Rohani na saída da biblioteca papal.
O presidente da República Islâmica do Irã chefiava de uma delegação de 12 pessoas, diplomatas em Roma e oficiais vindos de Teerã, incluindo o ministro das Relações Exteriores, Javad Zarif.
Depois do encontro com o Papa, Rohani e Zarif se reuniram com o secretário de Estado, No.2 do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, e o ministro das Relações Exteriores, o arcebispo Paul Gallagher.
A audiência papal havia sido agendada para meados de novembro, mas precisou ser adiada em razão dos atentados jihadistas de 13 de novembro em Paris.
Rohani, um clérigo xiita, é o segundo presidente do Irã a ser recebido por um pontífice após o encontro em 1999 entre o presidente Mohammad Khatami e o Papa João Paulo II.
O Vaticano elogiou o tom mais moderado do Irã desde a eleição de Rohani e saudou o acordo com as grandes potências sobre o programa nuclear iraniano.
O diálogo da Igreja católica com o Islã e o xiismo poderia ser muito importante para a estabilidade do Oriente Médio.
Neste sentido, Francisco e Rohani discutiram o papel estabilizador que o Irã pode desempenhar na região.
Após a reunião, o Papa cumprimentou a delegação que acompanha o presidente iraniano e presidiu a tradicional troca de presentes.
O presidente iraniano deu um tapete persa feito à mão e um livro com miniaturas dentro.
Francisco deu o medalhão de São Martinho de Tours e a encíclica "Laudato Se" sobre a proteção do meio ambiente.
Francisco pediu desculpas por não ter uma versão em farsi, dando-lhe um volume em italiano e em árabe.