Cerca de 20.000 pessoas estão bloqueadas na fronteira síria com a Turquia

Mais de 120 rebeldes e membros das forças pró-regime teriam morrido na localidade de Ratyan, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos
Da AFP
Publicado em 05/02/2016 às 17:30
Mais de 120 rebeldes e membros das forças pró-regime teriam morrido na localidade de Ratyan, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos Foto: Foto:ROBERT ATANASOVSKI AFP


Cerca de 20.000 civis que fogem da ofensiva do regime de Bashar al-Assad na província síria de Aleppo (norte) estavam bloqueados nesta sexta-feira na fronteira com a Turquia, agravando a tragédia humanitária provocada pelo conflito que deve ser alvo de novas discussões na ONU.

"Estima-se que um total de até 20.000 pessoas estejam reunidas na passagem de fronteira de Bab al-Salama e entre 5.000 e 10.000 tenham ido para a cidade (mais próxima) de Azaz", também na província síria de Aleppo, informou Linda Tom, porta-voz do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA).

Sob cobertura de ataques aéreos russos - quase mil desde o início desta ofensiva na segunda-feira -, o exército sírio recuperou o controle de duas novas localidades rebeldes, Rityan e Mayer, apertando o cerco em torno da cidade de Aleppo.

Mais de 120 rebeldes e membros das forças pró-regime teriam morrido na localidade de Ratyan, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

No sul do país, ainda com o apoio dos ataques ??russos e de combatentes do Hezbollah libanês, as forças de Assad tomaram uma cidade estratégica, Atmane, na província de Deraa.

Com as vitórias recentes do regime, os rebeldes estão no que poderia ser o seu pior momento desde o início do conflito em 2011. A província de Aleppo é um dos principais redutos da rebelião em um país fragmentado entre regime, rebeldes e jihadistas do grupo Estado islâmico (EI).

"Os rebeldes estão batendo em retirada em todos os lugares, não há uma frente significativa onde não recuaram", declarou Emile Hokayem, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.

Enquanto isso, a situação humanitária, já catastrófica, piorou, com 40.000 habitantes da província de Aleppo em fuga em direção à fronteira turca.

Um vídeo postado por ativistas na internet mostra centenas de pessoas, incluindo muitas crianças, caminhando em direção à fronteira com a Turquia. Alguns carregavam nas costas sacos de plástico, enquanto outros parecem ter partido sem nada.

"Onde estão vocês, Turquia, Arábia Saudita, Catar? Onde estão os muçulmanos para nos ajudar?", exclamou um homem irritado, referindo-se aos países que apoiam a rebelião.

"O que frustra a maioria dos rebeldes são esses países que afirmam ser amigos da Síria, mas que se contentam com belas palavras", afirmou à AFP Mamoun al-Khatib, diretor da agência de notícias local Shahba.

Nesta sexta-feira, a fronteira entre a Turquia e a Síria foi fechada ao sul da cidade turca de Kilis (sul), enquanto milhares de pessoas aguardavam do lado sírio.

De acordo com um jornalista da AFP, a situação era calma no posto de fronteira turco de Oncupinar (chamado Bab al-Salama do lado sírio).

 

'O mundo se cala'

A Turquia, que já abriga cerca de 2,5 milhões de sírios, acusou os ??"cúmplices" russos de Damasco de "crimes de guerra".

"Os russos bombardeiam implacavelmente, o regime bombardeia implacavelmente. Mas o mundo se cala", lamentou na quinta-feira o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

Com a progressão do regime, os rebeldes e várias centenas de civis de Aleppo poderiam ficar rapidamente sem saída, uma vez que sua principal rota de abastecimento para a Turquia foi cortada na quarta-feira.

O regime controla os distritos oeste da cidade e os rebeldes, a parte leste desde 2012.

No plano político, as conversações de paz indiretas em Genebra, que nem sequer foram iniciadas entre regime e oposição, foram adiadas pelo mediador da ONU Staffan de Mistura para 25 de fevereiro.

Ele deverá prestar contas ainda nesta sexta ao Conselho de Segurança sobre sua decisão de adiar essas discussões que deveriam buscar uma solução para o conflito.

 

Neste contexto, a Rússia rejeitou nesta sexta as críticas das potências ocidentais que a acusam de sabotar as negociações de paz de Genebra por seu apoio militar ao regime sírio.

"É de mau gosto, não é o momento para recriminações, os nossos esforços políticos conjuntos devem ser intensificados", declarou à imprensa o embaixador russo na ONU, Vitali Churkin, antes do início das consultas sobre a Síria no Conselho de Segurança.

Em entrevista ao jornal italiano La Repubblica, De Mistura indicou que a ONU iria "verificar" em 12 de fevereiro em Munique, por ocasião de uma conferência sobre segurança, a disposição dos países envolvidos no conflito para alcançar paz.

No entanto, os Estados Unidos, França, Turquia e a Otan têm acusado Moscou de minar os esforços para uma solução política do conflito, que já deixou mais de 260.000 mortos e que forçou mais de metade da população a deixar suas casas.

Ancara também considerou de "ridículas" as acusações feitas no dia anterior por Moscou sobre um projeto de intervenção militar turca na Síria.

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