Astronautas retornam à Terra após recorde de 340 dias na ISS

Kelly e Kornienko realizaram missão para estudar os efeitos biológicos e psicológicos de longas permanências no espaço com o objetivo de preparar missões habitadas a Marte
Da AFP
Publicado em 02/03/2016 às 8:01
Kelly e Kornienko realizaram missão para estudar os efeitos biológicos e psicológicos de longas permanências no espaço com o objetivo de preparar missões habitadas a Marte Foto: Foto: KIRILL KUDRYAVTSEV / POOL / AFP


O astronauta americano Scott Kelly e o russo Mikhail Kornienko retornaram nesta quarta-feira (2) à Terra depois de permanecerem um recorde de quase um ano a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS), realizando experimentos para futuras viagens a Marte.

Acompanhados pelo russo Serguei Volkov, Kornienko e Kelly, que passaram 340 dias na ISS, pousaram como estava previsto nas estepes do centro do Cazaquistão às 04h27 GMT (01h27 de Brasília), anunciaram o centro de controle russo e a Nasa.

"O ar é tão agradável aqui. Pergunto-me por que estão todos tão agasalhados!", disse Kelly ao sair da nave Soyuz às equipes de assistência russas, segundo imagens da televisão da Nasa.

Embora planejassem sair sozinhos da Soyuz para imitar as condições de pouso em Marte, os astronautas não conseguiram completar a ação e foram ajudados pelas equipes de evacuação, indicou o centro de controle à agência de imprensa TASS.

Mikhail Kornienko, de 55 anos, e Scott Kelly, de 52, completaram o período ininterrupto mais longo a bordo da ISS desde que a estação passou a acolher passageiros, em 2000.

Kelly, que realizou quatro viagens à ISS, também bate o recorde de tempo acumulado no espaço por um americano, com 540 dias.

O recorde mundial de tempo ininterrupto passado no espaço é do russo Valeri Poliakov, com mais de 14 meses a bordo da estação espacial Mir, em 1995.

Kelly e Kornienko realizaram esta missão para estudar os efeitos biológicos e psicológicos de longas permanências no espaço com o objetivo de preparar missões habitadas a Marte a partir de 2030.

Durante sua estadia na Estação, os dois foram submetidos com frequência a exames médicos, assim como a uma bateria de exames para estudar os efeitos no longo prazo da microgravidade no organismo humano.

O irmão gêmeo de Kelly, o ex-astronauta Mark Kelly, também participou do experimento em terra, com o objetivo de comparar os dois organismos e detectar os efeitos fisiológicos da viagem em Scott.

"Fisicamente, eu me sinto muito bem", disse Kelly à imprensa por meio de uma videoconferência. "Poderia ficar mais 100 dias... poderia ficar mais um ano, caso fosse preciso", afirmou, embora tenha admitido estar impaciente para retornar ao convívio com sua família e amigos.

Na microgravidade, as gotas de água que flutuam no ar e em contato com o corpo se colam firmemente à pele, o que torna muito difícil tomar um banho. Os astronautas fazem seu asseio com esponjas molhadas.

Por isso, "a primeira coisa" que Kelly disse que fará ao chegar em sua casa, em Houston, no Texas, será pular na piscina.

Também afirmou que sofre com pequenos problemas de vista, algo normal pela microgravidade, que aumenta o líquido cefalorraquidiano ao redor do nervo óptico.

A ausência de microgravidade também reduz a massa muscular e a densidade óssea, o que obriga os astronautas a fazer exercícios com frequência.

Kelly e Kornienko decolaram do cosmódromo de Baikonur em 27 de março de 2015 junto ao russo Guennadi Padalka que, por sua vez, bateu o recorde absoluto de voo humano acumulado em órbita com 879 dias quando retornou à Terra, em 11 de setembro de 2015.

Serguei Volkov, que decolou rumo à ISS em 15 de dezembro de 2015, passou 182 dias em órbita.

A Rússia fornece à ISS seu principal módulo, onde estão situados os motores-foguetes, e as naves russas Soyuz são os únicos meios para levar e trazer as tripulações da estação orbital desde o fim dos ônibus espaciais americanos.

Dezesseis países participam da ISS, um laboratório orbital que gira ao redor da Terra desde 1998 e que custou no total 100 bilhões de dólares, financiados em sua maior parte por Rússia e Estados Unidos.

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