Pressionado por Rússia e Estados Unidos, o governo de Bashar al-Assad aceitou, nesta quarta-feira (4), respeitar uma trégua de dois dias na cidade síria de Aleppo.
A declaração do governo foi dada após o anúncio de um acordo entre Washington e Moscou para estender a essa cidade o frágil cessar-fogo sírio.
"Uma trégua estará em vigor em Aleppo, por 48 horas, a partir da 1h de quinta-feira (19h em Brasília)", declarou o comando do Exército sírio, segundo veículos da imprensa estatal.
O ministério russo da Defesa indicou que seus supervisores do cessar-fogo acertaram com seus pares americanos observar essa trégua até meia-noite de 6 de maio.
O secretário de Estado americano, John Kerry, disse que uma nova trégua em Aleppo começou às 18h01 (horário de Brasília) e que a violência cessou.
"Vimos uma queda generalizada da violência naquelas zonas, apesar de alguns informes sobre a continuação de combates em algumas localidades", disse Kerry.
Ele acrescentou que representantes dos Estados Unidos em Genebra coordenam, com seus colegas russos, "os esforços de monitoramento desse renovado cessar de hostilidades".
Kerry ressaltou ainda que, na visão de Washington, a trégua deve se estender a todo o país.
O departamento de Estado confirmou que EUA e Rússia concordaram hoje com estender a trégua na Síria para incluir a cidade de Aleppo.
"Desde que isso entrou em vigor a 00h01 de Damasco, vimos uma diminuição da violência nessas áreas", afirmou o porta-voz Mark Toner, acrescentando, porém, que ainda há informações sobre combates "em algumas partes".
A partir do início da semana, Washington e Moscou negociavam a renovação do acordo de cessar das hostilidades na Síria em vigor, em princípio, desde 27 de fevereiro, mas que foi quebrado no final de abril em Aleppo, a grande cidade do norte do país.
A guerra na Síria continuava, nesta quarta-feira, porém, com duros combates em Aleppo e com bombardeios do governo contra zonas rebeldes perto de Damasco, apesar das negociações entre russos e americanos.
Desde a retomada das hostilidades, em 22 de abril, na segunda maior cidade do país, 284 pessoas, incluindo 57 crianças e 38 mulheres, morreram na violência, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Os confrontos diretos foram retomados na terça-feira, quando a coalizão de grupos rebeldes "Fatah Halab" ("A conquista de Aleppo") lançou uma ofensiva nos bairros controlados pelo governo. Os confrontos continuaram madrugada adentro na periferia dessa localidade, segundo um correspondente da AFP no local.
São "os combates mais violentos em Aleppo em mais de um ano", indicou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
Nesta quarta (4) pela manhã, reinava uma calma relativa, mas três civis morreram quando um foguete caiu sobre um bairro controlado pelas forças pró-governo, de acordo com a agência oficial de notícias Sana.
TROPAS TURCAS NA SÍRIA?
"Russos e americanos (...) tentaram introduzir um regime de silêncio (cessação das hostilidades) em e no entorno de Aleppo", disse hoje a repórteres o porta-voz militar russo, Igor Konashenkov, em Hmeimim, uma base aérea, onde as forças russas estão estacionadas na província de Latakia (oeste).
Mas "o regime de silêncio foi impedido pela Frente Al-Nosra", indicou, referindo-se ao ramo sírio da Al-Qaeda na Síria.
Rússia e Damasco justificaram assim a ofensiva lançada em Aleppo em 22 de abril, que acabou com a trégua estabelecida entre governo e rebeldes, mas que excluía grupos extremistas como o Estado Islâmico e a Frente Al-Nosra.
A Turquia, que vê sua fronteira com a Síria ser atacada quase que diariamente com foguetes atribuídos ao EI, está disposta, "se for necessário", a enviar tropas ao país vizinho, declarou o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu.
"Estamos preparados para tomar todas as medidas para nos protegermos, tanto no interior quanto no exterior da Turquia", garantiu, em entrevista à rede catari Al-Jazeera.
Na semana passada, Moscou e Washington alcançaram um acordo para o "congelamento" das hostilidades durante 24 horas prorrogado duas vezes em Ghuta Oriental e na província de Latakia. Nesta última, foi onde houve os ataques.
Nesta quarta (4), o Conselho de Segurança da ONU se reuniu em Nova York para tratar da situação na Síria - Aleppo, em especial.
Funcionários de alto escalão da ONU disseram que os responsáveis pelo cerco a Aleppo devem ser julgados no Tribunal Penal Internacional por cometerem crimes de guerra.
"Os responsáveis por crimes de guerra devem assumir suas responsabilidades", disse a autoridade de Assuntos Políticos da ONU, Jeffrey Feltman.
O assessor do secretário-geral Stephen O'Brien disse que "a vida das pessoas em Aleppo é terrível" e condenou "os imperdoáveis e muito perturbadores ataques" contra instalações médicas.