Ao menos 94 pessoas morreram nesta quarta-feira (11) em três ataques reivindicados pelo grupo Estado Islâmico (EI) em Bagdá, no dia mais mortal na capital do Iraque desde o início do ano.
Os atentados, que também fizeram ao menos 150 feridos, foram reivindicados pelos jihadistas em dois comunicados publicados na internet, afirmando que os ataques foram cometidos por três suicidas em carros-bomba.
O ataque mais sangrento ocorreu perto de um mercado do grande bairro xiita de Sadr City e deixou 64 mortos e 82 feridos.
O ataque é o mais violento desde o início do ano em Bagdá, onde o EI ataca frequentemente lugares públicos de bairros predominantemente xiitas.
O número de vítimas deste atentado ainda pode aumentar, uma vez que a explosão do carro-bomba também feriu 82 pessoas, de acordo com um balanço revisado divulgado por fontes médicas e das forças de segurança.
A explosão ocorreu no horário do rush, às 10h00 locais (4h00 de Brasília), perto de um mercado do grande bairro xiita de Sadr City, ao norte da capital. O fogo se espalhou rapidamente para as lojas, cujas fachadas foram destruídas.
"Um caminhão tentou entrar no mercado, mas a polícia proibiu a aproximação e pediu ao motorista para recuar. Mas o caminhão encontrou uma outra entrada e explodiu. As pessoas e vendedores daqui são civis inocentes", relatou uma testemunha, Abu Ali.
Horas mais tarde, o EI anunciou, em um comunicado publicado na internet, que um suicida, identificado como Abu Suleiman al-Ansari, havia detonado o veículo.
Poucas horas depois, dois novos atentados com carro-bomba atingiram o bairro xiita de Kazimiyah e do sunita-xiita de Jamea em Bagdá, segundo a polícia.
Na entrada de Kazimiyah, um bairro no noroeste da capital, o ataque custou a vida de ao menos 17 pessoas, segundo fontes hospitalares. Vários membros das forças de segurança estão entre as vítimas.
No ataque de Jamea, no oeste de Bagdá, treze pessoas morreram, de acordo com uma autoridade do ministério do Interior.
Crise política
Em Sadr City, dezenas de iraquianos expressavam sua raiva e frustração, denunciando a inação do governo e dos políticos contra o grupo ultrarradical sunita.
"Os políticos são responsáveis pela explosão e as pessoas são vítimas de suas brigas. Os políticos dizem que o exército e a polícia não estão fazendo seu trabalho bem o suficiente, mas na verdade eles são os líderes", criticou Abu Ali.
O enviado especial da ONU no Iraque, Jan Kubis, denunciou "ataques terroristas covardes contra civis".
O ataque acontece num momento em que o Iraque é abalado por uma grave crise política. Vários partidos se opõem aos planos do primeiro-ministro de estabelecer um governo de tecnocratas por medo de perder alguns dos seus privilégios.
Esta crise é seguida com preocupação pelos Estados Unidos, que temem um "desvio" das atenções das autoridades da luta contra o EI.
Washington aumentou recentemente o seu apoio militar a Bagdá, para ajudar o exército iraquiano a reconquistar os vastos territórios que caíram nas mãos dos jihadistas desde 2014.
O EI perdeu terreno ao abandonar várias cidades, incluindo Ramadi e Tikrit, cujo controle foi recuperado pelas forças iraquianas apoiadas por ataques aéreos da coalizão internacional sob comando dos Estados Unidos.
Mas os jihadistas conservam importantes redutos, incluindo Mossul, a segunda maior cidade do país, e ainda têm a capacidade de atacar Bagdá e outras áreas predominantemente xiitas.
Após o primeiro atentado, o porta-voz do governo iraquiano, Saad al Hadithi, assegurou que o EI ocupa apenas 14% do território iraquiano.
O último ataque reivindicado pelo EI foi na segunda-feira, quando um carro-bomba explodiu na cidade de Baquba (norte de Bagdá), matando pelo menos 10 pessoas.
Irritados com a situação política, milhares de iraquianos - partidários do clérigo xiita Moqtada Sadr - organizaram nas últimas semanas protestos contra o governo.
Uma manifestação culminou com a invasão da Zona Verde de Bagdá e a ocupação do Parlamento durante várias horas.
Há anos, posições-chave do governo estão divididas com base em quotas políticas e sectárias e Moqtada Sadr, assim como o primeiro-ministro Haider al-Abadi, quer um novo governo composto por tecnocratas, capaz de realizar de forma mais eficaz as reformas cruciais para a luta contra a corrupção.