Os cães parecem ter sido domesticados duas vezes de forma independente a partir de matilhas de lobos na Europa e na Ásia, revelou um estudo internacional publicado na quinta-feira (2) com base em indícios arqueológicos e genéticos que ajudam a esclarecer as origens do melhor amigo do homem.
Duas hipóteses diferentes eram priorizadas até então. A de que os seres humanos domesticaram os cães pela primeira vez na Europa, há mais de 15.000 anos, ou a de que esta domesticação teria ocorrido no leste da Ásia há pelo menos 12.500 anos.
Este novo estudo publicado na revista americana Science sugere que as duas suposições podem estar corretas.
"As indicações de DNA com as quais trabalhamos, combinadas com dados arqueológicos, indicam a presença dos primeiros cães, sugerindo que precisamos rever o número de vezes que os cães foram domesticados separadamente", explica Greger Larson, diretor do departamento de bio-arqueologia na Universidade de Oxford, no Reino Unido, que liderou a pesquisa.
"Talvez por isso não houve consenso sobre a origem da domesticação dos cães entre os cientistas", acrescenta.
Os pesquisadores do Trinity College em Dublin reconstituíram a história da evolução canina por sequenciamento de genoma de um cão de 4.800 anos, cujos ossos continham um DNA preservado.
A ossada foi descoberta no sítio neolítico de Newgrange, na Irlanda, contemporâneo de Stonehenge, na Inglaterra.
Uma outra equipe de pesquisadores, incluindo de franceses do Museu de História Natural de Paris, obteve DNA mitocondrial, herdado da mãe, de 59 cães que viveram em um período de 14.000 a 3.000 anos atrás.
Eles então compararam esses traços genéticos com os de mais de 2.500 cães modernos de todo o mundo, que já haviam sido estudados.
Indícios para os gatos e porcos
Finalmente, análises arqueológicas mostram que os primeiros cães apareceram na Europa e na Ásia há mais de 12.000 anos, mas 4.000 anos depois na Ásia Central.
Todos estes dados sugerem que os cães foram domesticados pela primeira vez entre os lobos dos dois lados da Eurasia.
Os cães originários da Ásia teriam, em seguida, ido para a Europa no 5º e 4º milênio a.C., com as migrações humanas. Eles misturaram-se com os antigos cães europeus e os substituíram.
A maioria dos cães de hoje são uma mistura de seus antepassados asiáticos e europeus, o que explica as dificuldades até agora encontradas pelos cientistas em interpretar dados genéticos.
Este mesmo projeto de investigação continua a analisar os dados genéticos e arqueológicos de milhares de cães e lobos para testar esta nova perspectiva de dupla domesticação canina. O objetivo é localizar e datar as origens mais antigas do cão.
A possibilidade de uma dupla origem dos cães é intrigante porque outras pesquisas já sugeriram múltiplas domesticações de gatos e porcos, observa John Novembre, geneticista da Universidade de Chicago (Illinois), que não cooperou no estudo.
Isso poderia indicar que os animais seriam mais domesticáveis do que se pensa, diz ele.
"Se a domesticação do cão ocorreu em um local, pode-se deduzir que provavelmente era um processo muito difícil, mas se isso aconteceu duas vezes, isso pode indicar que isso não é tão complicado", relata Peter Savolainen, geneticista do Instituto Real de Tecnologia em Estocolmo, um dos principais defensores da hipótese da origem asiática do cão.