O primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, se reuniu nesta quinta-feira (28) com o conselho militar supremo (YAS) para tratar de uma profunda reforma do exército, cuja metade dos generais está suspensa, enquanto o expurgo segue atingindo de forma implacável a imprensa.
Depois de ter prestado homenagem aos turcos que foram às ruas "como heróis para defender a democracia" durante uma visita ao memorial do fundador da Turquia moderna, Mustafá Kemal Ataturk, o chefe de governo presidiu uma reunião com o que resta da hierarquia militar turca: generais com semblante sério.
A reunião não foi realizada no quartel-general do exército, como é habitual, mas na residência do primeiro-ministro, em Ancara.
O ministro do Interior turco, Efkan Ala, havia anunciado pouco antes à agência TGRT/Ihlas que a polícia será equipada com armas pesadas, uma medida destinada a contrabalançar o poder do exército.
O poder islamita-conservador do presidente Recep Tayyip Erdogan intensificou nos últimos dias "a grande limpeza" destinada a afastar os partidários do pregador exilado nos Estados Unidos Fethullah Gulen, acusado de ter organizado o golpe de Estado, algo que o pregador nega.
Assim, 149 generais e almirantes foram expulsos do exército na quarta-feira por sua "cumplicidade na tentativa de golpe de Estado", segundo um decreto oficial.
Entre outros, encontram-se 87 integrantes de alto escalão do exército de terra, 30 da força aérea e 32 da marinha. Além disso, 1.099 oficiais foram excluídos por causa de indignidade.
Nesta quinta-feira, horas antes da reunião do YAS, dois dos mais importantes generais renunciaram: o chefe do exército de terra, o general Ihsan Uyar, e o chefe dos "treinamentos e da doutrina de comando", o general Kamil Basoglu, informou a agência de notícias Dogan.
O YAS planejava decidir nesta quinta-feira quem substituirá uma parte destes responsáveis.
Uma facção do exército - cerca de 1,5%, segundo números oficiais - se sublevou contra o poder na noite de 15 de julho, utilizando caças e helicópteros e semeando o pânico nas ruas de Ancara e Istambul. A tentativa de golpe deixou 270 mortos.
Além do exército, os meios de comunicação estão na mira dos expurgos. Na quarta-feira foi anunciado oficialmente o fechamento de mais de 130: 45 jornais, 16 redes de televisão, três agências de notícias, 23 emissoras de rádio, 15 revistas e 29 editoras.
Alguns já haviam parado de divulgar informação nesta quinta-feira. O ex-jornalista do Today's Zaman Abdullah Bozkurt, que fundou uma agência de notícias depois que o jornal foi tomado pelo poder, denunciou em sua conta do Twitter "o fechamento ilegal" de seu meio de comunicação.
Estas medidas se somam aos 89 mandados de prisão emitidos contra jornalistas entre segunda e quarta-feira por estarem vinculados à rede do pregador Gülen, segundo o governo.
Várias organizações de defesa da liberdade de imprensa condenaram o fechamento dos meios de comunicação e as ordens de prisão.
A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) convocou a União Europeia a pressionar o presidente Erdogan para que respeite a liberdade de imprensa.