A oposição venezuelana protestou com um "panelaço" nesta sexta-feira para exigir um referendo revogatório do mandato do presidente Nicolás Maduro, diante de novos adiamentos no trâmite da consulta por parte do organismo eleitoral.
Em Caracas, os manifestantes chegaram de cinco ponto até a Avenida Libertador, liderados por dirigentes da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).
Um forte esquema policial ocupou a região, sem que ocorresse incidentes.
Mas no estado de Trujillo, no oeste do país, dois manifestantes foram feridos a bala por grupos armados ligados ao governo que "passaram das provocações à violência física e depois à violência armada", disse à imprensa Jesús Torrealba, secretário-geral da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).
Embora estivesse convocado desde o início de setembro, o protesto nacional se converteu em uma nova expressão de rejeição depois que o Poder Eleitoral adiou o anúncio sobre a data em que poderão ser recolhidas as assinaturas necessárias para convocar o povo às urnas.
Torrealba declarou à AFP que o protesto é uma resposta à "ofensa" que representa o "silêncio" do CNE sobre o referendo.
"O silêncio é um desrespeito com o direito do povo venezuelano de construir uma solução pacífica, eleitoral, constitucional e democrática a este drama".
Henry Ramos Allup, presidente do Parlamento de maioria opositora, proclamou o "sucesso" da jornada, destacando que não se pode comparar com o 1º de setembro, quando a MUD garantiu ter colocado um milhão de pessoas em Caracas.
"Todos os eventos não podem ser deste tamanho (...). Diante de tudo e superando os obstáculos, as ameaças (...), o povo foi às ruas para se manifestar, defender seu referendo".
Ramos Allup disse que o objetivo é exigir que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) "não continue sabotando" a realização do revogatório neste ano.
O dirigente denunciou que o governo ordenou bloquear os acessos a Caracas para impedir a entrada de manifestantes.
Na véspera do protesto, o CNE adiou por "ameaças" o anúncio que deveria realizar nesta sexta-feira sobre a data e as condições para a coleta das quatro milhões de assinaturas (20% do total de eleitores).
O CNE - acusado pela oposição de estar sob o controle do governo - alegou que os protestos colocam em risco seus funcionários e disse que retomará a análise deste tema na próxima segunda-feira, embora não tenha especificado se neste dia fará um pronunciamento definitivo.
Como sempre ocorre, o chavismo convocou contramanifestações, desta vez para diante da principal sede do CNE, no centro de Caracas, onde também ocorreu uma caravana de motociclistas vestidos de vermelho.
"Hoje, novamente venceu a paz diante da chantagem da direita. Foi uma demonstração da nossa capacidade de mobilização", destacou o deputado Elías Jaua.
O protesto opositor foi batizado de "cúpula do povo contra a fome e pelo revogatório", em referência à Cúpula dos Países Não Alinhados (NOAL), que ocorre na Ilha Margarita, no Caribe.
Na Ilha Margarita, ao menos mil chavistas protestaram em apoio a Maduro, liderados pelo número dois do chavismo, Diosdado Cabello. O grupo, composto na maioria por jovens de vermelho, gritou palavras de ordem, cantou e colocou uma bandeira na base de uma estátua de bronze do finado presidente e líder da revolução bolivariana Hugo Chávez (1999-2013).
Afetada pela queda das receitas do petróleo, a Venezuela sofre uma crise econômica refletida em uma escassez de 80% dos alimentos e remédios, segundo estudos privados, e a inflação mais alta do mundo, que o FMI projeta em 720% para 2016.
As mobilizações ocorrem após dois dias de protesto, em 1 e 7 de setembro, para exigir o revogatório. O primeiro reuniu um milhão de pessoas em Caracas, segundo a MUD, embora o governo afirme que compareceram apenas dezenas de milhares, e que neste mesmo dia mobilizou meio milhão de chavistas.
Foram as maiores manifestações desde as de 2014 contra Maduro, que deixaram 43 mortos.
"Nicolás não sairá e continuará sendo presidente com panela ou sem panela", disse na quinta-feira Diosdado Cabello.