Maduro ameaça prender opositores por 'julgamento político'

Maduro afirmou que irá apresentar uma ação contra maioria opositora da Assembleia Nacional por abrir contra ele um processo que ''não existe na Constituição''
AFP
Publicado em 28/10/2016 às 21:54
Maduro afirmou que irá apresentar uma ação contra maioria opositora da Assembleia Nacional por abrir contra ele um processo que ''não existe na Constituição'' Foto: Foto: Juan Barreto/AFP


O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou nesta sexta-feira ter "derrotado" uma tentativa de golpe de Estado, após o fracasso da greve geral convocada pela oposição, cujos líderes ameaçou de prisão caso levem adiante o julgamento político contra ele.

Diante de milhares de simpatizantes, nos arredores do Palácio de Miraflores, em Caracas, Maduro disse que apresentará uma ação nos tribunais de Justiça contra a maioria opositora da Assembleia Nacional por abrir contra ele um processo que "não existe na Constituição".

"Eu não vou ficar de braços cruzados diante deste golpe de Estado, a Justiça chegará, mais tarde do que nunca, que os golpistas o tenham claro", destacou.

Maduro foi convocado a se apresentar na próxima terça-feira às 15h00 locais (17h00 de Brasília) no Parlamento para ouvir as acusações de "abandono do cargo", como parte do que os opositores consideram um "julgamento político" de responsabilidade pelo agravamento da crise política e econômica.

"Dizem que abandonei meu cargo de presidente, quando estou dedicado 24 horas por dia ao povo da Venezuela, a governar deste palácio, que é do povo", assegurou.

A acusação da oposição, uma greve geral que era cumprida parcialmente nesta sexta-feira e uma marcha até o palácio presidencial convocada para 3 de novembro são parte de uma nova ofensiva da aliança Mesa da Unidade Democrática (MUD) contra o governo, após a suspensão do referendo revogatório contra Maduro, há uma semana.

Também nesta sexta-feira, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) certificou que Nicolás Maduro é cidadão venezuelano e não tem nacionalidade colombiana, como insinuava a oposição como argumento para questionar sua habilitação ao cargo.

Greve parcial

Ruas e avenidas de Caracas e outras cidades do país, como Maracaibo (noroeste) e San Cristóbal (oeste) tinham menos movimento que o habitual, mas o transporte e algumas escolas funcionaram, enquanto alguns bancos abriram e universidades particulares fecharam.

O vital setor petroleiro, sob controle do Estado, operava sem contratempos.

"Ninguém atendeu à convocação de greve destes improvisados da direita. O país esteve 100%. A greve da direita golpista fracassou", afirmou Maduro, que tinha ameaçado com a ocupação por parte das Forças Armadas das empresas que suspendessem suas atividades.

Mais de mil empresas foram inspecionadas pelos ministros e as Forças Armadas, cujo alto comando declarou nesta semana "lealdade incondicional" ao presidente.

"A situação está muito difícil para não trabalhar. As pessoas não compram brinquedos, gastam tudo em comida", disse à AFP Alicia de Garcés, de 74 anos, dona de uma loja de brinquedos no leste de Caracas.

Mas alguns desafiaram a ameaça. "Fechado por falta de pessoal", dizia um letreiro de uma loja de ferragens em outra parte da capital.

O ex-candidato à presidência e líder opositor Henrique Capriles chamou atenção para a "solidão das ruas".

"Parece sábado, não em pleno funcionamento, mas tampouco totalmente paralisado", disse à AFP o vice-presidente do sindicato patronal Fedecámaras, Carlos Larrazábal.

Durante o ato, Maduro assinou um decreto com aumento de 40% do salário mínimo - chegando a US$ 140 na taxa de câmbio oficial.

Apesar de ser o quarto aumento decretado em 2016, os venezuelanos se queixam de que os salários não dão para nada, diante de uma inflação fora de controle, que o FMI estima em 475% para este ano, a mais alta do mundo.

Segundo a empresa Venebarómetro, Maduro enfrenta uma impopularidade de 76,4% e 67,8% se dizem a favor da revogação de seu mandato, que termina em janeiro de 2019.

O passado ainda fresco

Para Maduro, a greve e a convocação para a marcha até Miraflores repetem a cartilha de 11 de abril de 2002, quando uma mobilização maciça até a sede da Presidência acabou em confrontos que deixaram 19 mortos e um golpe de Estado que tirou Hugo Chávez do poder durante três dias.

Diosdado Cabello, número dois do chavismo, advertiu que deveriam ser presos os diretores do Fedecámaras e o empresário Lorenzo Mendoza, presidente do grupo Polar, maior produtor de alimentos da Venezuela, aos quais acusou de idealizar o "golpe".

Agentes de inteligência cercaram uma fábrica da Polar e a casa de Mendoza, acusado pelo governo de ser a ponta de lança de uma "guerra econômica" com a qual os opositores tentam derrubá-lo.

Mas o Fedecámaras afirma que se tratou de uma "greve cidadã", não patronal. 

"Essa é uma grande diferença com relação ao passado", disse Larrazábal, em alusão ao fato de que no dia seguinte ao golpe contra Chávez, o então líder do sindicato patronal, Pedro Carmona, se autodeclarou presidente da Venezuela.

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