A oposição venezuelana advertiu nesta segunda-feira que o prosseguimento do diálogo depende dos "gestos" do governo e garantiu que mantém sua ofensiva para destituir o presidente Nicolás Maduro, em meio a um crescente clima de desconfiança e divisão interna.
"Dos gestos concretos do governo dependerá o sucesso e a continuidade do diálogo. Sua abertura não significa que vamos paralisar a luta", declarou nesta segunda-feira o secretário-executivo da Mesa da Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba.
O governo venezuelano e a oposição iniciaram um diálogo para resolver a grave crise política, após semanas de escalada do conflito, com o apoio do Papa Francisco e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
A libertação dos presos políticos, eleições antecipadas ou a reativação do referendo revogatório - cuja suspensão há onze dias agravou a crise - são as principais exigências da MUD.
Elías Jaua, um dos negociadores de Maduro, já adiantou que "o governo não prende nem solta", e sim a Justiça, e responsabilizou a MUD pela suspensão do referendo "por cometer fraude" no processo.
As partes concordaram com um novo encontro no dia 11 de novembro em Caracas, mas antes trabalharão em mesas separadas sobre temas como respeito ao estado de direito; justiça, direitos humanos, reconciliação; crise econômica e social; e eleições.
Os partidários da MUD exigem firmeza na campanha para destituir Maduro, em meio a uma economia devastada, à insegurança e a uma inflação galopante.
Segundo pesquisa Venebarómetro, Maduro é rejeitado por 76,4% da população e 67,8% dos venezuelanos querem sua saída do poder.
O secretário-executivo da Mesa da Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba, anunciou que, de modo paralelo ao diálogo, a oposição vai manter a estratégia contra o governo, que combina protestos nas ruas e a declaração de Maduro em "abandono de cargo" por parte do Parlamento, de maioria opositora.
Torrealba disse que a MUD defendeu na mesa "o resgate do referendo revogatório (contra Maduro) ou que conversemos sobre o adiantamento das eleições presidenciais".
O processo para a consulta popular foi suspenso no dia 20 de outubro, após decisões judiciais que cancelaram um recolhimento de assinaturas necessário para sua ativação.
Durante a instalação da mesa de negociações, o presidente venezuelano afirmou que assumia um "compromisso total e absoluto" com o diálogo, mas o líder opositor e ex-candidato presidencial Henrique Capriles declarou que "em Maduro não confio" nunca, "são uns demônios capazes de tudo, confio apenas no Papa Francisco".
Torrealba anunciou que a MUD "revisará" a passeata prevista para a próxima quinta-feira em direção ao palácio presidencial de Miraflores, enquanto Jaua destacou que o protesto "não está autorizado" porque nos arredores do palácio estarão "milhares de chavistas".
Os chavistas realizarão na terça-feira uma passeata em direção ao Miraflores, onde na quarta haverá uma manifestação de jovens militantes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).
Na quinta, o chavismo convocou uma mobilização para a Avenida Bolívar, no oeste de Caracas, que a princípio coincidirá com a passeata da MUD.
A crise política se agravou na Venezuela em outubro, após decisões judiciais que cancelaram o recolhimento de assinaturas para a ativação do referendo revogatório.
Depois disso, o Parlamento denunciou uma ruptura do marco constitucional e se propôs a declarar Maduro em abandono de cargo por suposto descumprimento de suas funções.
Um julgamento político não está previsto na Constituição e, de qualquer forma, a justiça - segundo a MUD, sequestrada pelo governo - declarou em desacato a Assembleia Nacional, razão pela qual suas decisões são consideradas ilegais.
Maduro recebeu nesta segunda-feira o subsecretário americano de Estado para Assuntos Políticos, Thomas Shannon, que viajou a Caracas para transmitir o apoio de Washington ao diálogo entre o governo e a oposição.
Maduro e Shannon mantiveram uma breve reunião, no Palácio Miraflores, e não deram declarações após o encontro.
Shannon ficará na Venezuela até a quarta-feira e deve manter contatos com outros "altos funcionários do governo, membros da oposição política e representantes da sociedade civil", informou o departamento americano de Estado.