O chefe do grupo extremista Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al Bagdadi, está perdendo o controle sobre suas tropas em Mossul, no norte do Iraque, declarou nesta quinta-feira um porta-voz da coalizão após a divulgação de mensagem atribuída ao líder jihadista.
"Isto é um claro sinal de que sua capacidade de dirigir seus combatentes e de se comunicar com as tropas está severamente reduzida", declarou em videoconferência o coronel americano John Dorrian, porta-voz da coalizão em Bagdá.
Há sinais de que "gente" do EI em Mossul "já abandona seus postos e tenta fugir", e que a organização extremista está "executando pessoas" por este motivo.
Na mensagem que rompeu seu silêncio, Al-Baghdadi convoca seus combatentes a lutar até a morte para defender Mossul ante a ofensiva das tropas iraquianas.
"Não se retirem", afirma uma voz atribuída à do líder extremista na mensagem publicada pela Al-Furqan Media, uma agência próxima ao EI. "Manter posições com honra é mil vezes mais fácil que se retirar com vergonha", acrescenta Bagdadi.
O líder do EI lançou este apelo a "todos os habitantes de Nínive", a região onde se encontra Mossul, a maior das cidades conquistadas pelo grupo extremista.
Bagdadi promete vitória, embora os extremistas enfrentem em seu reduto uma ofensiva por todo o caminho, já que para lá convergem desde 17 de outubro dezenas de milhares de soldados, policiais e combatentes curdos, apoiados pelos bombardeios da coalizão internacional.
"É o tipo de coisa que um chefe diz quando está perdendo o controle" de suas tropas, declarou Dorrian.
Foi em Mossul, em junho de 2014, poucos dias após os extremistas se apoderarem de amplos territórios no Iraque, que Bagdadi fez uma de suas poucas aparições públicas e anunciou a criação de um califado com territórios iraquianos e sírios.
Desde então, o "califa", um iraquiano nascido em 1971, não voltou a reaparecer em público e está em paradeiro desconhecido, apesar dos 10 milhões de dólares oferecidos pelos Estados Unidos por sua captura. Sua mensagem sonora anterior remonta ao mês de dezembro de 2015.
Sua nova mensagem não está datada, mas se refere a acontecimentos registrados nas últimas semanas.
Bagdadi ataca os xiitas iraquianos, que são maioria no país, e lembra que no exército iraquiano os soldados portam bandeiras e lançam slogans glorificando figuras reverenciadas pelo Islã xiita.
Mas também encoraja seus extremistas a atacarem a Turquia, país majoritariamente sunita, mas que participa da ofensiva contra Mossul, e tem uma base perto desta cidade. "Como a Turquia entrou na zona de suas operações, é preciso atacá-la e se vingar", afirma.
Baghdadi quer que os extremistas que não possam se dirigir à Síria ou ao Iraque viajem à Líbia, onde o EI está cercado na cidade de Sirte há vários meses.
Enquanto isso, em Mossul as forças iraquianas se posicionaram na periferia da cidade, depois de ter entrado em um bairro do sudeste.
O calor dos combates chegava nesta quinta-feira a Gogjali, nas portas da cidade, onde a unidade de elite do contraterrorismo (CTS) iraquiano consolidava suas posições, constatou uma jornalista da AFP.
Mas nenhum sinal de avanço em direção ao centro da metrópole foi constatado desde terça-feira, enquanto outras unidades iraquianas se aproximavam pelas frentes norte e sul.
A coalizão liderada pelos Estados Unidos avalia em entre 3.000 e 5.000 o número de combatentes do EI dentro da cidade e adverte que sua reconquista pode ser longa e difícil.
Em, Gogjali, a jornalista da AFP viu um número crescente de civis fugindo às zonas reconquistadas pelo exército, levando poucos pertences.
"Há crianças que chegam descalças, sem comida ou água suficiente", constatou Alvhild Stromme, da ONG Norwegian Refugee Council (NRC), uma das mais ativas no Iraque. A ONG Save The Children avalia em 600.000 o número de crianças presentes entre os mais de 1,2 milhão de pessoas que permanecem em Mossul.
A principal preocupação das organizações humanitárias é, efetivamente, o destino destas centenas de milhares de civis presos em Mossul. Pedem a abertura de corredores humanitários para que os habitantes possam abandonar a cidade e se dirigir aos acampamentos abertos na região.
Um total de 20.000 pessoas já foram deslocadas desde o início da ofensiva contra Mossul, segundo a Organização Internacional para as Migrações.
Por outro lado, a ONU expressou sua "grande preocupação" ante o fato de que dezenas de milhares de civis teriam sido capturados pelo EI para ser usados como escudos humanos.