Milhares de pessoas protestaram neste domingo (6) em Hong Kong contra os planos de Pequim de intervir em um impasse político sobre dois legisladores locais que insultaram a China na legislatura da cidade. Durante a manifestação, grupos entraram em confronto com a polícia, que revidou usando spray de pimenta.
O conflito é o sinal mais recente de um racha se aprofundando entre Pequim e Hong Kong sobre o quanto de autonomia o território deveria ter. Hong Kong é autorizada governar sob uma miniconstituição - a Lei Básica - e tem um Judiciário independente.
Hong Kong iniciou processos legais na quinta-feira sobre se sua legislatura deve permitir que dois políticos que defendem uma maior autonomia de Hong Kong podem tomar posse, depois que os dois organizaram um protesto contra a China em sua cerimônia de juramento no mês passado.
Mas no sábado, o principal órgão legislativo da China disse que está preparado para anular a autoridade legal de Hong Kong sobre como lidar com as ações dos legisladores locais, que Pequim denunciou como uma ameaça à segurança nacional. O Comitê Permanente do Congresso Nacional Popular da China disse no sábado que emitirá sua própria interpretação da Lei Básica, já que Pequim "não pode se dar ao luxo de ficar ociosa" quando confrontada com desafios à sua autoridade sobre Hong Kong, segundo a agência de notícias Xinhua. Pequim deve anunciar sua decisão nesta segunda-feira.
Neste domingo, milhares de pessoas marcharam no centro de Hong Kong para protestar contra a ameaça de intervenção da China. Em cenas que relembram os protestos pró-democracia da cidade em 2014, vídeos feitos pela imprensa local mostraram que a polícia pulverizava a multidão e os manifestantes se protegendo com guarda-chuvas e máscaras.
O superintendente sênior da polícia de Hong Kong, Lewis Tse, confirmou que os policiais usaram spray de pimenta durante um confronto "caótico" com alguns manifestantes no domingo. Ele disse que dois homens - de 39 anos e 57 anos - foram presos.
Centenas de manifestantes se reuniram perto de Western Street, no distrito de Sai Ying Pun, na cidade, quando a marcha contra a reinterpretação chinesa da Lei Básica se transformou em um impasse com a polícia.
A interpretação de Pequim da disposição relevante na Lei Básica de Hong Kong substituiria toda a decisão local do tribunal. Advogados de Hong Kong expressaram a preocupação que essa intervenção minaria o status semi-autônomo da cidade.
Os dois políticos, democraticamente eleitos para o Conselho Legislativo de Hong Kong em setembro, "atingiram a linha de fundo do princípio 'um país, dois sistemas' e representaram uma grave ameaça à soberania e segurança nacional", disse o Comitê Permanente, de acordo com a Xinhua.