Turbulência no México gera mortes e instabilidade econômica

Crise interna e ofensivas do presidente eleito dos EUA à indústria automobilística tumultuam país
JC Online
Publicado em 08/01/2017 às 9:39


CIDADE DO MÉXICO-  Em menos de uma semana, o México foi sacudido por violentos protestos contra o aumento da gasolina e ameaças protecionistas do presidente eleito americano Donald Trump. Quando os mexicanos ainda comemoravam o Ano Novo, entravam em vigor aumentos de até 20,1% sobre a gasolina e de 16,15% sobre o diesel, no início da liberação dos preços dos combustíveis, subsidiados por décadas, medida que desencadeou saques inéditos ao comércio. As ações resultaram em seis mortes até a última sexta-feira.

Enquanto a fúria tomava conta das ruas, em meio a pressões do presidente eleito americano Donald Trump e uma queda na demanda de modelos compactos, a automotora Ford cancelou um projeto de 1,6 bilhão de dólares para construir uma nova Fábrica na nortenha San Luis Potosí. 

Isso fez o peso despencar: a moeda fechou na semana com uma perda superior a 3,00% enquanto o Banco do México (Central) se viu obrigado na última quinta-feira a intervir no mercado pela primeira vez desde fevereiro de 2016. 

A moeda já havia sofrido uma desvalorização de 16,12% no ano passado, atingida sobretudo pela vitória de Trump, que prometeu impor fortes medidas protecionistas. 

Com esses fatores, somados a um forte déficit fiscal e um risco inflacionário, o México enfrenta uma “tempestade perfeita”, resume o presidente da American Chamber México, José María Zas, à imprensa. O analista Raúl Feliz, do Centro de Pesquisa e Docência Econômicas, concorda que a previsão no início de 2017 não é o melhor para México. 

“A incerteza sobre a política comercial que o México enfrentará com Trump nubla o panorama e dificulta qualquer cálculo”, comentou Feliz à AFP. Essa incerteza às vésperas da era Trump “reduz a taxa de juros e complica investimentos a médio e longo prazo”, ressaltou Feliz, apontando que no primeiro semestre a economia mexicana pode entrar em recessão. 

“Caso se chegue a bom acordo com Trump, a economia se recuperaria no segundo semestre, ao contrário estaríamos em uma situação muito mais delicada no final do ano, e 2018 seria pior pela eleição presidencial”. Zas prefere não adiantar cenários catastróficos e pede que se espere o "fim de jogo".

Entre a incerteza do que acontecerá na Casa Branca a partir de 20 de janeiro, empresários e pequenos comerciantes alertam para terríveis consequências econômicas pelos violentos protestos pelo gasolinaço (tarifaço da gasolina) e pela onda inflacionária que o aumento poderá disparar. Até sexta, cerca de mil pequenos e médios comércios e mais de 250 lojas de departamento tinham sido saqueadas e em Veracruz, onde foram registrados saques violentos,  cúpula empresarial classificou a situação de "apocalipse". 

Analistas se perguntam se esses protestos são espontâneas ou orquestrados por opositores, grupos sociais ou mesmo pelo crime organizado. "Não sabemos ainda o que é isso", disse à AFP Luis Carlos Ugalde, analista e ex-presidente do Instituto Nacional Eleitoral. 

"O que fica claro é que há muitos grupos em muitas regiões do país que estão dispostos a utilizar qualquer evento, qualquer situação, para dispersar problemas de violência", acrescentou. 

O presidente da American Chamber reconhece que essa inesperada violência preocupa, mas descarta que afaste os investidores. "Os investidores se preocupam mais com o que Trump está fazendo do que com os protestos, mas, se eles saírem de controle e virar um caos generalizado, aí sim será outro fator negativo", adverte Feliz. 

As ofensivas de Trump aos fabricantes de veículos

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, busca embarreirar os projetos da Toyota e de fabricantes americanas no México, que se transformou em um polo de fabricação de veículos. O México é o quarto exportador de veículos rápidos no mundo e o sétimo produtor mundial de automotores, segundo dados da indústria. 

Este setor, que gera 52 bilhões de dólares por ano no México, representa mais de 875.000 empregos diretos em todo o país, segundo o Ministério da Economia. Mas o magnata Trump quer recuperar esses empregos em seu país. 

O presidente eleito ameaçou a japonesa Toyota com altas tarifas alfandegárias se insistisse em construir no México uma fábrica de automóveis para o mercado americano. Na última terça-feira, fez uma ameaça similar à General Motors, enquanto a Ford anunciou o surpreendente cancelamento de uma nova fábrica no México pelo valor de 1,6 bilhão de dólares, que havia sido criticada por Trump durante sua campanha. 

O principal atrativo do México para os investidores estrangeiros são os encargos trabalhistas relativamente baixos, sua proximidade com o mercado dos Estados Unidos e os tratados de livre-comércio que tem com 46 países. 

O principal acordo do México é o Nafta, em vigor com os Estados Unidos e o Canadá desde 1994. Trump, entretanto, quer renegociá-lo e ameaça romper o tratado caso não consiga melhores condições para o seu país. 

O México não tem suas próprias marcas, mas 80% dos veículos estrangeiros que se produzem em seu território está destinado à exportação. Embora os principais destinos sejam os Estados Unidos (72,2%) e o Canadá (10,5%), o país exporta, no total, para 100 lugares de todo o mundo.

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