O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, apontou uma equipe econômica que tem centros de poder conflitantes e visões contrastantes, que poderia levar a Casa Branca a direções imprevisíveis enquanto busca acelerar o crescimento. Várias das escolhas reforçam a divisão básica que permeou a campanha do republicano: assessores orientados para o mercado, do establishment de Washington e de Wall Street, por um lado, e adversários do livre mercado, do outro.
Trump apontou o economista Peter Navarro, um duro crítico da política comercial dos EUA e da política da China, para o comando do novo Conselho de Comércio Nacional. Navarro colaborou com frequência na campanha com Wilbur Ross Jr., investidor de Nova York que é a escolha de Trump para secretário de Comércio e defende uma postura mais agressiva com os parceiros comerciais do país.
Do outro lado do espectro, Trump selecionou Gary Cohn, presidente há tempos do Goldman Sachs Group e um democrata que não era visto como particularmente ideológico, para liderar o Conselho Econômico Nacional. O conselho coordena a política através do Tesouro e dos departamentos do Trabalho, Moradia, Desenvolvimento Urbano e Saúde e Serviços Humanos, bem como órgãos regulatórios independentes.
Uma estrutura organizacional sem uma foco claro poderia levar esses indivíduos a se contrapor, enquanto competem pelo apoio do presidente. A incerteza sobre a agenda econômica é ampliada sobre como Trump, que nunca teve cargo público, mudou suas ideias sobre questões políticas.
"Em administrações anteriores, no dia da eleição você geralmente sabia quem seriam as pessoas vindo e sabia suas visões", afirmou Tony Fratto, que trabalho em questões econômicas no governo George W. Bush. No caso de Trump, o cenário é menos previsível. "Certamente ninguém antecipava Gary Cohn como parte da equipe", disse Fratto.
Trump diz desejar um crescimento mais forte, reforma tributária, posições de gastos mais duras, o fim da reforma da saúde do presidente Barack Obama e gastos em infraestrutura, entre outras políticas.
As tensões já aparecem, agora que ele precisa traduzir as promessas de campanha em uma agenda de governo. Trump e outros congressistas republicanos mostram-se preocupados sobre como avançar para acabar com a reforma da saúde de Obama, que pode gerar déficits e deixar milhões sem seguro-saúde. O novo governo também pode pedir bilhões de dólares para segurança fronteiriça após Trump prometer várias vezes fazer o México pagar por um muro na fronteira.
A equipe de transição não respondeu questões sobre o assunto. "Nós éramos uma equipe durante a campanha e nos conhecemos há vários anos, então não há nada de novo", disse Ross durante entrevista á rede Fox Business após sua nomeação ser anunciada. "O trabalho conjunto será uma das marcas dessa administração."
O núcleo duro da equipe econômica de Trump consiste em dois homens de finanças: Cohn e o indicado para secretário de Tesouro, Steven Mnuchin, que em 1994 tornaram-se sócios no Goldman. A presença do Goldman Sachs contrasta com os ataques contra o banco de investimentos durante a campanha. Outro nome considerado é Jim Donovan, executivo sênior do Goldman, para subsecretário para Finanças Domésticas, importante posto no Tesouro.
Talvez o exemplo mais patente da idiossincrasia política venha da escolha de Trump para o comando do orçamento: o deputado republicano Mick Mulvaney. Um falcão do controle do déficit, o congressista tem sido crítico dos republicanos que buscam gastar mais e falou com ceticismo sobre o plano de Trump de gastar mais em infraestrutura, semanas antes da eleição de novembro. Uma questão é se Mulvaney prevalecerá sobre Trump e sua agenda de grandes gastos ou se terá de defender um impulso de curto prazo nos gastos fiscais diante dos colegas conservadores céticos da Câmara dos Representantes. Fonte: Dow Jones Newswires.