O presidente Donald Trump provocou várias reações neste sábado (28), após o decreto para suspender a entrada de refugiados nos Estados Unidos e impor novos obstáculos para viajantes procedentes de sete países muçulmanos, entre eles a Síria.
Para cumprir outra promessa eleitoral, Trump anunciou na sexta-feira, durante a cerimônia de posse de James Mattis como secretário de Defesa no Pentágono, um mecanismo de "controle extremo" para "manter os terroristas islâmicos radicais fora dos Estados Unidos".
A medida suspende o programa americano de recepção de refugiados durante pelo menos 120 dias, enquanto é definido o futuro sistema de verificação de vistos.
Os novos protocolos devem "garantir que os aprovados como refugiados não representarão uma ameaça à segurança ou bem-estar dos Estados Unidos".
Além disso, as ordens executivas também proíbem de maneira específica a entrada de refugiados sírios por tempo indeterminado ou até que o presidente decida que não representam um perigo para o país.
Para completar, o país não concederá vistos durante 90 dias a migrantes ou turistas procedentes do Iraque, Irã, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen.
Durante a reforma do sistema de vistos, algumas exceções devem ser aceitas para "minorias religiosas", com o objetivo de favorecer principalmente os cristãos.
No ano fiscal de 2016 (1º de outubro de 2015 a 30 de setembro de 2016), os Estados Unidos do presidente Barack Obama receberam 84.994 refugiados, sendo mais de 10 mil sírios. Para este ano, o governo de Trump não quer "mais de 50.000 refugiados".
Em uma declaração conjunta em Genebra, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) fizeram um apelo para que os Estados Unidos prossigam com a tradição de receber refugiados.
"A OIM e o ACNUR esperam que os Estados Unidos continuem desempenhando seu papel importante de líder e prossigam com sua longa tradição de proteção aos que fogem dos conflitos e das perseguições", afirma o comunicado.
"Estamos profundamente convencidos de que os refugiados devem receber un tratamento equitativo e oportunidades de reassentamento, independente de sua religião, nacionalidade ou raça", completa a nota.
Os ministros das Relações Exteriores da França e Alemanha afirmaram estar "preocupados" com as decisões de Trump e destacaram que "acolher refugiados que fogem da guerra é parte de nosso dever".
"Vamos entrar em contato com nosso colega (americano) Rex Tillerson quando for nomeado para discutir ponto por ponto e ter uma relação clara", disse o chefe da diplomacia francesa, Jean-Marc Ayrault, após uma reunião com o colega alemão, Sigmar Gabriel, em Paris.
Outros defensores dos direitos humanos e organizações de proteção aos refugiados também condenaram a decisão de Trump.
A ativista paquistanesa Malala Yousafzai, vencedora do Prêmio Nobel da Paz e vítima de um atentado executado pelos talibãs em 2012, afirmou que a medida fecha portas.
"Estou com o coração partido porque hoje (sexta-feira) o presidente Trump está fechando as portas para crianças, mães e pais que fogem da violência e da guerra", afirmou em um comunicado.
O diretor executivo da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês), Anthony Romero, destacou que o "controle extremo é apenas um eufemismo para discriminar os muçulmanos".
Ahmed Rehab, diretor em Chicago do grupo Conselho de Relações Islâmico-Americanas, disse à AFP que o decreto "afeta pessoas com base apenas em sua fé religiosa e origem nacional, e não por seu caráter".
A organização não descarta a possibilidade de combater o decreto com processos na justiça.
Mas a notícia foi aplaudida pelo presidente da Câmara de Representantes, Paul Ryan, um peso pesado do Partido Republicano, que destacou que "é tempo de reavaliar e reforçar o processo de verificação de vistos".
O presidente iraniano, Hasan Rohani, criticou, sem citar o nome, Donald Trump ao afirmar que esta "não é uma época para construir muros", depois que o presidente americano assinou um decreto para iniciar a construção de um muro na fronteira com o México.
O mundo de hoje não é um mundo no qual se reforçam as diferenças entre as nações", disse o iraniano.
Já o porta-voz do presidente tcheco, Milos Zeman, elogiou a política anti-imigração de Donald Trump.
"O presidente Trump protege seu país. Está preocupado com a segurança de seus concidadãos. É exatamente o que as elites europeias não fazem", tuitou Jiri Ovcacek, porta-voz do chefe de Estado tcheco.
"A segurança dos cidadãos tchecos é uma prioridade. Agora temos aliados nos Estados Unidos", acrescentou.
O presidente Zeman é um duro crítico da imigração de refugiados muçulmanos para a Europa. Ele chegou a citar uma "invasão organizada" e julgou ser "impossível integrar os muçulmanos".
- Aparato militar -
O presidente americano também assinou um decreto que estabelece as bases para uma "grande reconstrução" do aparato militar do país.
O decreto determina que o secretário Mattis tem o prazo de 30 dias para revisar a situação geral das Forças Armadas e apresentar à Casa Branca uma lista de recomendações para melhorar estas condições.