Os cristãos voltaram a ser alvo da violência no Egito, onde pelo menos 28 pessoas morreram, incluindo várias crianças, nesta sexta-feira (26) em um ataque de homens armados contra o ônibus que transportava os fiéis para um monastério copta.
O ataque, na província de Minia, ainda não foi reivindicado, mas coincide com a ofensiva iniciada há alguns meses pelo braço egípcio do grupo extremista Estado Islâmico (EI) contra a minoria copta no Egito.
A organização extremista deseja intensificar os ataques contra a minoria copta, que representa quase 10% dos 90 milhões de habitantes do Egito.
O Ministério do Interior indicou que os criminosos estavam a bordo de três picapes quando abriram fogo contra o ônibus que seguia para monastério de São Samuel, mais de 200 km ao sul do Cairo, antes de fugir.
O porta-voz do Ministério da Saúde, Khaled Megahed, anunciou um balanço atualizado de 28 mortos e 25 feridos. Uma fonte do Ministério afirmou que várias vítimas eram crianças, de acordo com a emissora estatal.
A polícia instalou postos de controle na estrada onde ocorreu o ataque, informou Al-Bedawi.
A instituição de referência do Islã sunita Al-Azhar, com sede no Cairo, condenou o ataque que acontece na véspera do início do Ramadã, o mês do jejum muçulmano. O grande imã Ahmed Al-Tayeb chamou o ato de "inaceitável" e afirmou que visava desestabilizar o Egito.
A Igreja copta apelou, por sua vez, "por mais medidas para prevenir esses incidentes que prejudicam a imagem do Egito".
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apresentou suas condolências ao povo egípcio após este "terrível atentado". "O terrorismo será mais rapidamente derrotado se todos os países se unirem contra ele", afirmou.
O presidente russo, Vladimir Putin, assegurou que o ataque "é uma nova prova da barbárie e da crueldade do terrorismo". "Ninguém deve temer por sua vida praticando sua fé", reafirmou o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian, no Twitter.
Nos últimos seis meses, o EI reivindicou atentados suicidas contra duas igrejas coptas que deixaram 45 mortos ao norte do Cairo no início de abril, assim como um ataque contra um templo copta no centro da capital que provocou 29 mortes em dezembro.
Após os ataques do Domingo de Ramos, o presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi, declarou estado de emergência por um prazo de três meses. Ele acusou na ocasião os extremistas de tentar dividir o país com atentados contra as minorias.
Os coptas são uma das comunidades cristãs mais importante do Oriente Médio, e uma das mais antigas. No Egito, os muçulmanos sunitas são maioria.
A justiça civil anunciou na semana passada o envio para a justiça militar de 48 pessoas suspeitas de envolvimento nos ataques contra as três igrejas coptas executados desde dezembro.
De acordo com a Promotoria, os acusados dirigiam ou pertenciam a "duas células" vinculadas ao EI, no Cairo e no sul do Egito, e participaram de "treinamento militar em campos do EI na Líbia e na Síria".
Um braço do grupo extremista atua ao norte da península do Sinai, onde ataca com frequência as forças de segurança, sobretudo desde que o exército destituiu o presidente islamita Mohamed Mursi, em 2013.
Nesta região, atentados contra os cristãos obrigaram dezenas de famílias a fugir da região desde janeiro.
A comunidade cristã do Egito recebeu no mês passado o apoio do papa Francisco. Durante uma visita de dois dias, o pontífice defendeu a tolerância e o diálogo entre muçulmanos e cristãos.
Fervoroso defensor do ecumenismo, Francisco se reuniu na ocasião com o papa copta ortodoxo do Egito, Tawadros II, e com o imã de Al-Azhar, a instituição mais prestigiosa do Islã sunita, Ahmed Al-Tayeb.
"O incidente de Minia é inaceitável para os muçulmanos e para os cristãos e atenta contra a estabilidade do Egito", afirmou Al-Tayeb em um comunicado.