Britânicos voltam às urnas para eleger o governo do Brexit

Pela quarta vez em dois anos, os britânicos voltarão a votar, neste caso para definir o governo que vai reger saída da União Europeia
AFP
Publicado em 08/06/2017 às 16:05
Pela quarta vez em dois anos, os britânicos voltarão a votar, neste caso para definir o governo que vai reger saída da União Europeia. Foto: Foto: Justin Tallis / AFP


Pela quarta vez em dois anos, os britânicos voltarão a votar nesta quinta-feira (8), neste caso para eleger o governo que negociará o Brexit, com os conservadores de Theresa May como os favoritos nas últimas pesquisas.

Trata-se das segundas eleições gerais desde maio de 2015, se somando ao referendo sobre a União Europeia (junho de 2016) e às eleições locais (maio de 2017).

Cerca de 47 milhões de britânicos estão habilitados para eleger os 650 deputados da Câmara dos Comuns.

O líder do partido que obtiver mais cadeiras - a conservadora May ou o trabalhista Jeremy Corbyn - será o próximo primeiro-ministro.

May e Corbyn votaram na metade da manhã. Ela em um povoado de Sonning e ele em uma escola do bairro londrino de Islington.

A campanha começou com uma vantagem de 20 pontos para May nas pesquisas, mas foi diminuindo com o passar das semanas. Nas últimas pesquisas, a vantagem dos conservadores oscilava entre menos de um ponto percentual (Survation, 41,3%-40,4%) e 12 (ICM, 46%-34%) ou 13 (BMG 46%-33%).

Os colégios eleitorais abriram às 07H00 locais (03H00 de Brasília) e fecharão às 22H00 (18H00), após uma campanha marcada por três atentados em três meses - o último no sábado em Londres - que deixaram 35 mortos.

Theresa May, sólida e estável?

Perto da ponte de Londres, onde no sábado morreram oito pessoas atropeladas e esfaqueadas por três homens, os eleitores consultados pela AFP negaram que estes fatos tivessem alguma influência em seu voto.

"Para mim, o tema decisivo de campanha é se Theresa May é ou não é uma líder sólida e estável", como presumia em seu slogan eleitoral, "e não acredito que seja. Corbyn superou as expectativas", disse Gerard, de 61 anos, depois de depositar o seu voto.

No bairro londrino de Barking, onde viviam dois dos três autores do atentado de sábado, as prioridades dos eleitores também eram outras. "Quero outros cincos anos de estabilidade, que a economia, a educação, a saúde funcionem. E uma posição forte no Brexit", disse Dave, de 63 anos.

"Não confio em ninguém", disse Simon Bolton, de 41 anos, um eleitor do leste de Londres. "A nossas opções falta qualidade, são muito limitadas".

No fechamento dos colégios eleitorais, as emissoras britânicas divulgarão a projeção dos resultados, que geralmente é confiável, mas a contagem oficial se prolongará por toda a noite.

Dependendo de quão apertado seja o resultado, cada cadeira contará e terão que esperar o resultado das últimas circunscrições, na sexta-feira às 07H00 (03H00 de Brasília), para saber quem será o próximo morador de Downing Street.

"Me deem o vosso apoio para liderar o Reino Unido, me deem a autoridade de falar em nome do Reino Unido, me fortaleçam para lutar pelo Reino Unido", pediu May nas últimas horas da campanha.

Corbyn, que chegou a pedir a renúncia de May depois do atentado de Londres, encerrou a campanha recordando que restavam "24 horas para salvar a saúde pública".

"Se conseguirem menos de 50 cadeiras" de vantagem sobre os trabalhistas, "será um resultado muito ruim" para May, disse à AFP Iain Begg, um analista político da London School of Economics. "Provavelmente ganhe, mas por muito menos do que pensava ao convocar as eleições", considerou.

A Bolsa de Londres e a libra esterlina caíram levemente nesta quinta-feira, em um dia tenso entre os investidores. O índice FTSE 100 subiu em um primeiro momento, antes de fechar com uma contração de 0,4%, quase em equilíbrio. E a libra perdeu terreno, mas se manteve ao nível em que estava depois que May convocou as eleições.

Um Brexit irreversível, falemos de pobreza

May anunciou em 18 de abril o adiantamento das eleições, inicialmente previstas para 2020, e o fez argumentando que queria fortalecer a sua posição antes das negociações de separação com Bruxelas ampliando a sua maioria absoluta, que era de 17 deputados.

O que começou como uma eleição sobre o Brexit e um plebiscito sobre Corbyn e a sua aptidão para lidar com a União Europeia, acabou sendo sobre austeridade, cortes, atentados e a capacidade de May de melhorar a vida dos mais humildades e proteger o país de ataques.

"O mais importante é a distribuição da riqueza, se há distribuição da riqueza, todo mundo fica feliz", disse Dan Kattal, um homem que, como 70% de seus vizinhos de Basildon, votou a favor da saída da União Europeia no referendo de 23 de junho de 2016.

"Não acredito que o motivo pelo qual [Corbyn] começou a melhorar fosse uma campanha brilhante, acredito que teve mais a ver com a titubeada de May", disse à AFP Eric Kaufmann, professor de Ciência Política na Universidade de Londres.

May, que foi ministra do Interior antes de ser primeira-ministra, chegou ao fim da campanha sob uma chuva de críticas pelos cortes orçamentários nos Serviços de Segurança e pela negligência deles.

O Reino Unido sofreu três atentados em menos de três meses, dois durante a campanha, com um total de 35 mortos: em 22 de março, perto do Parlamento britânico (cinco mortos); em 22 de maio, ao fim do show da cantora pop Ariana Grande em Manchester (22 mortos); e no sábado à noite, em Londres (oito mortos).

 

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